sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

BREVES NOTAS SOBRE A EVOLUÇÃO GEOMORFOLÓGICA QUATERNÁRIA DA ILHA DO MARANHÃO

As variações climáticas e morfológicas quaternárias tiveram origem, em especial, nos fenômenos glaciais globais ocorridos durante este “breve” tempo geológico. Em se tratando de aspectos morfológicos, o que Penteado (1983), Christofoletti (1980, p. 142-146) e Ab’Sáber (2003, p. 45) afirmam é que ocorreram flutuações significativas do nível do mar, a partir do início do Pleistoceno Superior (± 40.000 A.P.) e desenvolvidas até os presentes dias, com processos eustáticos ora transgressivos, ora regressivos, indicando diferenciações em dinâmicas de intemperismo, erosão e sedimentação (agradação ou progradação) das costas, do litoral e mesmo da própria plataforma continental.
Os estudos do Quaternário têm por objetivo a busca da compreensão da gênese e dos processos intrínsecos às dinâmicas ambientais atuais. Durante os últimos 40.000 anos, o nível do mar, em função da glaciação de Würm-Winsconsin, flutuou significativamente, configurando, por diversas vezes linhas de costa, costas e litorais heterogêneos, denotando diversos aspectos morfológicos.
Foi justamente no último significativo episódio transgressivo, iniciado a partir de 12.700 anos A.P. que as condições climáticas regionais passaram por grandes variações e o nível do mar subiu de aproximadamente -100 para ±3,5 metros (em relação ao atual). Ademais, há que se aportar ainda ao contexto de que todas as paisagens litorâneas e os limites costeiros observadas em tal Ilha e em suas adjacências datam do Quaternário Superior (Formação Açuí), sendo principalmente de idade holocênica, momento esse de (re)configuração das unidades paisagísticas regionais, individualização do Golfão Maranhense (vasto e complexo sistema ambiental estuarino de notável hidrodinâmica).
Ademais, foram diagnosticados outros efeitos geomorfológicos neste setor, como o surgimento de faixas de restingas e campos de dunas (agradação da linha de costa pelo acúmulo sedimentar, fato responsável, por exemplo, pela morfogênese da Ilha de Curupu, situada no município de Raposa, ao Norte da Ilha do Maranhão). Ocorreu, ainda, o afogamento dos cursos inferiores de rios (desde 12.700 A.P.) e configuração da faixa litorânea da Ilha do Maranhão e do Golfão Maranhense (entre 5.500 anos e 2.500 anos A.P., em momento de estabilização do nível do mar), com suas principais feições morfológicas: igarapés; estuários; pontais rochosos; depósitos de tálus; acúmulo de rochas em declives abruptos e rochosos; falésias; planícies de marés lamosa e arenosa; praias; dunas; ambientes dominados por mangues, marismas e vegetação de restinga (em paleodunas); bancos e cordões arenosos; restingas; enseadas; baías; tabuleiros sedimentares e colinas dissecadas. Paisagens essas que, vistas no contexto geral, dão idéia da fragilidade dos sistemas ambientais naturais associados à Zona Costeira Maranhense, sem nenhum programa de Gerenciamento Costeiro Integrado em voga nos últimos anos.
Luiz Jorge Dias
Geógrafo - MSc. Sustentabilidade de Ecossistemas
Prof. Geografia Fìsica - UEMA\CESI\DHG

BABAÇU: A AMEAÇA GEOECONÔMICA

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Publicado no Editorial do Jornal Pequeno de 06/04/2008
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A propósito das denúncias de devastação dos babaçuais maranhenses e do Projeto de Lei do deputado Carlos Alberto Milhomen que permite a derrubada de babaçuais nas zonas urbanas, o secretário de Estado de Meio Ambiente e Recursos Naturais do Maranhão, Othelino Neto, recebeu do geógrafo e mestre de Sustentabilidade em Ecossistemas, Luiz Jorge B. Dias, Consultor Ambiental Sênior da Secretaria, exposição de motivos através da qual explica as necessidades de articulação de políticas públicas orientadas à região das Matas dos Cocais do Estado do Maranhão.

Trata, dentre outras coisas de políticas públicas voltadas para a conservação do patrimônio ambiental que, conforme Luiz Jorge B. Dias, compreende o desenvolvimento de ações orientadas para as práticas de manutenção dos recursos ambientais. Conforme o geógrafo, as alternativas econômicas conseqüentes da manutenção das Matas dos Cocais em pé são consideradas condições necessárias para garantia das atividades humanas que, por sinal, se mostram bastante sustentáveis.

A polpa do babaçu é utilizada para diversos fins, enquanto a casca pode ser queimada e transformada em carvão, o que evitará o corte progressivo de árvores lenhosas para o exercício de certas atividades. Além disso, o fruto da palmeira do babaçu pode ser utilizado em fornos de usinas termelétricas de pequeno e médio porte e, dependendo da demanda de megawats a ser atingida, os procedimentos de licenciamento tendem a ser mais rigorosos.
Luiz Jorge Dias considera que, embora essa possibilidade seja ainda uma mera especulação, há viabilidade técnica para que ela se articule e se implemente, já que a demanda por energia elétrica tem se maximizado em todo o Estado. Entretanto, para que todas essas atividades sejam ampliadas ou continuem a ser desenvolvidas existem duas exigências técnico científicas: é absolutamente necessário que as Matas dos Cocais a que se articulam os ecossistemas dos babaçuais extensivos, sejam passíveis de conservação e que não haja devastação em qualquer que seja o tipo de espaço, rural ou urbano, de sua cobertura vegetal. Caso não sejam respeitadas essas condicionantes, 25% do território maranhense sofrerá danos ambientais sobre o meio físico, sobre os elementos e sistemas bióticos e sobre atividades humanas concretas Isso provocaria impactos significativos sobre a geração e distribuição de renda em mais de 90% dos municípios maranhenses.

É preciso entender que as Matas dos Cocais abrangem nada mais nada menos que 119 municípios do Centro Oeste e caso o Projeto de autoria do deputado Carlos Alberto Milhomen não seja vetado 118 desses municípios serão atingidos por ondas de calor expressivas com elevação de 2 a 3º C levando à extinção aves, pequenos répteis e animais invertebrados responsáveis pela manutenção das cadeias alimentares e estrutura dos sistemas ambientais. Em outras palavras, são reais as possibilidades de danos ao patrimônio geoambiental e geoeconômico do Maranhão.

Conclui-se de tudo isso que havendo a conservação do patrimônio ambiental disponível, as sociedades humanas terão como desfrutar de novas alternativas econômicas, com aumento da renda disponível. Novas fontes de energia, perfeitamente renováveis e sustentáveis, manterão a biodiversidade como principal parceira para o contínuo desenvolvimento das cadeias produtivas pré-estabelecidas. O Maranhão poderá ter um Plano de Ordenamento Territorial das atividades econômicas e da manutenção de sua biodiversidade.

LICENCIAMENTO DA "CASA DO MORRO" - SÃO LUÍS (MA)

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Publicado no Jornal Pequeno de 26/07/2008
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A Secretária de Estado do Meio Ambiente e Recursos Naturais (SEMA-MA) afirmou ontem, que concedeu licenciamento ambiental à NBR Empreendimentos Ltda., para a implantação de um projeto imobiliário onde se situava a popularmente conhecida “Casa do Morro”, embasada rigorosamente nos laudos geológicos realizados por técnicos do órgão ambiental, naquela área, no final do ano passado.

Os estudos técnicos comprovaram que o citado local não está assentado sobre ambiente de dunas, principal argumento que originou a ação civil pública proposta, esta semana, pelo Ministério Público Federal do Maranhão (MPF/MA), pedindo a suspensão do licenciamento ambiental concedido pela Sema e do alvará de construção expedido pela Prefeitura de São Luís. Segundo o geógrafo Luiz Jorge Dias, um dos técnicos da SEMA-MA que elaboraram o laudo sobre a área em questão, a situação ambiental da conhecida “Casa do Morro” é atípica dentro do contexto das formações ambientais naturais da Ilha de São Luís.

O geógrafo da SEMA-MA, que também é mestre em sustentabilidade de ecossistemas, afirma que, embora esteja situada nas proximidades de campos de dunas frontais, ou seja, na retaguarda das praias, o patamar da área onde se pretende instalar o empreendimento imobiliário não está assentado em dunas.

No estudo geológico realizado pela equipe da Secretaria de Meio Ambiente foi constatado ainda que a camada de areias sobre aquele patamar de relevo não é superior a 15 cm, assim como também verificou-se que logo abaixo dessa camada há horizontes de solos bem definidos (que não se encontra em dunas). “Isso se caracteriza como latossolos, ou seja, solos que têm a sua origem baseada na decomposição de rochas da formação de barreiras, onde, geologicamente, não há dunas em sua composição e estrutura durante milhares de anos”, frisa Luiz Jorge Dias.

Embasado em dados rigorosamente técnicos, resultados dos estudos feito na “Casa do Morro”, o geógrafo da Sema explica ainda que essa formação geológica caracteriza uma feição de relevo particular e predominante em toda Ilha. “São os tabuleiros costeiros, que foram produzidos, entalhados e esculpidos pelos avanços e recuos do nível do mar, progressivamente nos últimos três ou quatro milhões de anos”, explica Luiz Jorge Dias. “Nesses tabuleiros costeiros, conforme a sua geologia diferenciada das dunas, pode receber, sim, construções mais pesadas”, acrescenta o geógrafo.

A título de exemplo, ele afirma ainda que todos os prédios construídos em São Luís estão assentados sobre tabuleiros costeiros, e que não vê problemas geológicos nem geomorfolológicos ao processo de licenciamento ambiental do empreendimento imobiliário em questão.

REFLETINDO SOBRE A AMAZÔNIA

Qual a primeira coisa que pensamos quando ouvimos a palavra “Amazônia”? Alguém pode falar: “águas” ou “rios” em abundância. Outro pode dizer “florestas tropicais”. Outros, “pulmão do mundo” ou “o maior de todos os ecossistemas”. Ainda podem mencionar: “área de grande biodiversidade” ou “região inexplorada”, “espaço de degradação”, “vazio demográfico”. Bem, quase tudo isso pode corresponder àquele espaço, mas algumas idéias merecem ser desmistificadas.

A Amazônia não é o “pulmão do mundo”, como se pensava até a década de 1980. Muitos criam nessa idéia por ela ser o maior conjunto de florestas tropicais do mundo, o que levou à falsa interpretação de que era a responsável pela renovação da maior parte do oxigênio da atmosfera. No entanto, comprovou-se que corpos d’água de grande extensão, como grandes lagos, rios, mares e oceanos tinham participação maior que as florestas na liberação daquele gás essencial à vida, pois organismos microscópicos que vivem nesses meios desenvolvem mais a fotossíntese que nas florestas, isto por razões outras que não cabem ser discutidas aqui.

No conjunto dos grandes espaços florestados amazônicos, existem mais de 20 milhões de pessoas, isso apenas nos territórios brasileiros inseridos na Amazônia Legal, cujo conceito será aprofundado adiante. Entretanto, duas das maiores cidades brasileiras se localizam naquela região: Manaus e Belém. A primeira possui um dos maiores complexos industriais do País: a Zona Franca de Manaus. A segunda é considerada o “portal da Amazônia”. Ambas sofrem com a ausência de políticas públicas que propusessem e executassem adequados tratamentos dos elementos ambientais regionais, o que concorre para o comprometimento das condições de vida da população residente.

Ainda sobre o quesito populacional, existe uma infinidade de nações indígenas estabelecidas a milhares de anos nos mais recônditos locais do complexo paisagístico. Para termos uma idéia, existem culturas que ainda não estabeleceram contatos com a nossa sociedade, ou seja, ainda não foram “descobertas”. De certa forma, elas preservam caracteres lingüísticos, antropológicos, sociológicos e espiritualistas que não sofreram significativas mutações nos últimos cinco ou dez mil anos. E estão essas aldeias e outras já contatadas bem distribuídas, a ponto de utilizarem os elementos ambientais disponíveis sem perturbar os sistemas ambientais físicos e ecológicos, vivendo, literalmente, em “harmonia” com a natureza.

Uma das abordagens conceituais mais interessantes sobre a Amazônia é a dos cientistas que estudam a Geoecologia, que é uma disciplina situada nos limites entre a Geografia, a Ecologia, a Geomorfologia e a Geologia. Estudiosos como o Prof. Aziz Ab’Sáber, professor emérito do IEA/USP (Instituto de Estudos Avançados / Universidade de São Paulo) e um dos maiores conhecedores das múltiplas realidades regionais brasileiras, definem que a Amazônia é um grande Domínio de Natureza. Em outras palavras, ela corresponde a um sistema paisagístico dotado de inúmeros tipos de ecossistemas, ainda bastante desconhecidos em sua totalidade.

A idéia de domínio de natureza funciona da seguinte forma: cada indivíduo (ser vivo) quando convive com outros de uma mesma espécie formam uma população. À junção de populações de espécies diferentes denomina-se comunidade, que mostra a relação entre os seres vivos (por exemplo: um canário que habita um ipê amarelo e se alimenta de alguns insetos que ali também residem). As comunidades quando dependem de elementos não-vivos (água, ar, fogo, gelo, relevo, solo, clima, etc.) e manifestam essa dependência para a manutenção da vida formam um ecossistema, que é uma unidade ecológica local. Os vários ecossistemas locais agrupados e estabelecidos em equilíbrio dinâmico formam um mosaico regional de paisagens (ou região natural).

O conjunto dos mosaicos regionais de paisagem forma um bioma (meso-região natural). Ao conjunto de biomas compreende-se um Domínio de Natureza. Geralmente ele abarca áreas que são maiores que 100.000 km2 e possuem graus diferentes de alterações humanas, como veremos mais adiante. Porém, destacamos a importância desta idéia, pois, embora ela seja bastante extensa (em termos de abrangência espacial), essa macro-unidade geoecológica depende de cada espécie que a compõe. A ausência do anajá, por exemplo, pode causar uma grande perturbação ambiental de todo dominínio.

Os domínios de natureza são equivalentes aos domínios morfoclimáticos, ou seja, os espaços naturais originados pela ação conjunta dos fatores climáticos e geológicos, que configuraram formas de relevo diferentes em cada parte da superfície do Planeta. Essas regiões naturais são denominadas também de domínios fitogeográficos, pois representam a extensão de um tipo de formação vegetal dominante sobre um espaço de dimensões consideráveis (aqueles mais de 100.000 km2).

Segundo o Prof. Ab’Sáber (2006), a Amazônia, como um domínio morfoclimático (ou de natureza), possui uma extensão total de aproximadamente 2,5 milhões de km2 e abrange uma grande concentração de planícies que passam por processos de inundação na época das cheias, o que ajudou no estabelecimento do maior conjunto de rios de todo mundo: a famosa Bacia Hidrográfica Amazônica. Dentro desse domínio de natureza (bioma), encontra-se uma grande diversidade de tipos de florestas, sendo errado, portanto, denominar a área de “Floresta Amazônica”, já que, em virtude da grande diferenciação dos tipos de vegetação, de região para região, existem diferentes padrões de Florestas Amazônicas.

Para os geógrafos ao geral, existem dois conceitos principais que contextualizam a Amazônia. O primeiro é a Amazônia Legal, que corresponde a uma parcela territorial que abrange, dentro do território brasileiro, todos os estados que contêm características físicas e ecológicas das florestas e demais ecossistemas amazônicos. As macro-regiões brasileiras enquadradas são: Norte (AC, AM, AP, PA, RO, RR e TO), Nordeste (MA) e Centro-Oeste (MT).

O segundo é a Amazônia Internacional, que é a região representada pelos países sul-americanos que possuem territórios dominados pelas características amazônicas (também físicas e ecológicas) e engloba o Brasil, a Bolívia, o Peru, a Colômbia, a Venezuela, a Guiana, o Suriname e a Guiana Francesa. Sua abrangência, portanto, transcende a existência de um país apenas e necessita de convênios multilaterais para a preservação e conservação do bioma.Entretanto, o que deveria ser uma força, transformou-se em empecilho.

As guerrilhas existentes na Colômbia, por exemplo, acabaram por diminuir a soberania nacional daquele país, implicando em intervenções internacionais, principalmente dos EUA. O tráfico de pedras preciosas no Suriname e Guiana Francesa originou uma pressão do continente a uma maior fiscalização desses países, o que proporciona um aviltamento das condições de vida da população.

O tráfico de drogas e armas entre o Brasil, a Colômbia, a Venezuela e as Guianas é outro grande impedimento, pois acaba por estabelecer um enfraquecimento das fronteiras nacionais, bem como da implementação dos problemas sociais, principalmente urbanos desses territórios. Vejamos bem, a falta de fiscalização nas fronteiras amazônicas pode levar ao caos social urbano em São Luís (MA), Goiânia (GO), Curitiba (PR), São Paulo (SP) e Rio de Janeiro (RJ), por exemplo.

Ante o exposto, há um grandioso risco de desestabilização continental caso não haja nenhuma orientação para a resolução de problemas relativos à ocupação e uso dos espaços florestados amazônicos. A ausência dessa temática na pauta emergencial dos governantes, em especial os brasileiros, levou ao desejo de internacionalização da Amazônia, que é capitaneado às escuras pelos EUA. Em outras palavras, ao se internacionalizar esse Dominío de Natureza, ele se transformará em algo parecido com a Antártica (o continente gelado), que não é de nenhuma nação, mas de "todas" aquelas capazes de explorá-la com tecnologia adequada. Contudo, o interesse internacional é de proporcionar uma “quebra” legal da soberania nacional, em que pese a brasileira, para a utilização de seus recursos ambientais. Nisto, o Governo Brasileiro ajuda bastante, não dando à região o real valor que ela exige.

Já o conceito econômico tem uma importância fundamental para a compreensão dos “jogos de interesses” existentes tanto na região, quanto sobre a região. Ele está intimamente relacionado às especulações sobre quais podem ser as potencialidades econômicas amazônicas, quem estaria envolvido, bem como quais são os principais interesses externos referentes àquela região. No entanto, muitas podem ser as interpretações, mas os fatos reais necessitam ser visitados para uma melhor compreensão das articulações referentes aos usos múltiplos da área. Eles são apresentados a seguir:
a) O interesse externo pela biodiversidade (conjunto dos seres vivos) amazônica é muito expressivo. Isso move atividades ilícitas como o contrabando de animais silvestres, plantas medicinais e sementes, estes dois últimos movidos pelos interesses de indústrias farmacêuticas;
b) A pressão geopolítica pela internacionalização da Amazônia é tão massiva, que forçou o frágil Governo Brasileiro a “ceder” às estratégias do “grande capital”, dando concessão de uso de glebas no meio das florestas a quem se dispor a pagar por elas, o que implica numa utilização de todos elementos físicos e ecológicos presentes na área ocupada, sem real pagamento de insumos produtivos ao Brasil (valor de negociação do patrimônio genético do domínio de natureza);
c) Aculturação de nações indígenas, o que leva à perda de traços essenciais para a compreensão de como os humanos se distribuíram pelo continente Sul-americano. Esse processo de “transformações” culturais leva a uma marginalização imposta pela nossa sociedade, bem como responde por genocídio de nações inteiras, como uma simples catapora (que dizimou mais de 1.200 pessoas em poucas semanas, em 2001, no estado do Amazonas), doença, como inúmeras outras, que não existem entre os indígenas e por isso os mesmo não possuem anticorpos (proteções naturais dos organismos contra determinadas doenças) contra elas, levando ao óbito;
d) Exploração madeireira ilegal, o que tem propiciado uma significativa perda de biodiversidade amazônica. Os pesquisadores Lentini, Veríssimo e Sobral publicaram, em 2003, o trabalho “Fatos Florestais da Amazônia”, o qual é uma expressiva contribuição ao reconhecimento dos problemas ligados à exploração madeireira. Os autores comentam que a extrema retirada de madeira, gerando frentes de desmatamento, principalmente nas partes Leste (Pará e Maranhão) e Sul (Mato Grosso) da Amazônia Legal, proporcionaram a condução dessa atividade para áreas mais centrais da Amazônia, o que aos poucos vai gerar verdadeiras “ilhas de devastação”, implicando em rupturas dos sistemas ambientais, gerando mudanças das mais diversas, muitas vezes irreversíveis.
Os problemas econômicos que giram em torno da Amazônia advêm do errado conceito de que ela é uma “fonte inesgotável de recursos”. Essa concepção tem orientado atividades ecusas, predatórias, como as já expostas, e não contribuíram em nada para a aplicação dos conceitos de sustentabilidade socioambiental. Isso ocorre por duas situações, em especial: o ato de não se saber (ou querer) diferenciar elementos ambientais de recursos ambientais, respectivamente significando todo e qualquer elemento natural e ecológico que naturalmente se estabeleceram em uma região; de forma complementar, a partir do momento em que se fala de recurso, deve-se ter em mente que essa concepção representa os elementos ambientais que passam a ter um valor de uso (que pode ser cultural, espiritual, sociológico ou mesmo de subsistência) e de troca (que sustenta as atividades econômicas, principalmente as capitalistas).

A segunda situação é expressa pelo descaso de governos, em todas as instâncias, que consideram ser “desenvolvimento” sinônimo lógico de “desmatamento”. Essa concepção é, no mínimo, absurda! Infelizmente, é o que orienta, por exemplo, o atual Governo Federal a escamotear o processo de arrendamentos de terras amazônicas para especuladores dos mais diversos tipos para usufruírem e legitimarem a extração descontrolada de elementos ambientais, que passam a sustentar a economia externa, em nada beneficiando o Brasil, ou mesmo os municípios em que as atividades de exploração se encontram.

Sobre a questão do desmatamento, os dados atuais mostram uma triste realidade para a região, ao demonstrar o ritmo acelerado de devastação florestal pelo qual passam os estados que compõem a Amazônia Legal, retratando apenas os anos de 1998-2002, o que embora seja um lapso de tempo relativamente curto, mas as implicações nos elementos físicos e ecológicos podem levar a mudanças ambientais bruscas, que se repercutirão sobre as diversas sociedades por igual, sejam elas aquelas que depredam a natureza, sejam as que a utilizam de forma racional.

Ante o exposto, o Prof. Aziz Ab’Sáber (2004) argumentou que não haverá desenvolvimento da Região Amazônica sem que haja uma orientação de estudos multidisciplinares sobre o espaço total da região. Esse processo responderia por “Zoneamento Ecológico-Econômico”, sendo necessário para toda e qualquer formulação de planejamentos territoriais e estabelecimento de políticas públicas para a Amazônia, vista em sua totalidade física, ecológica e humana.

Entretanto, para que haja um correto encaminhamento dessa proposta científica, ambiental e social, faz-se necessário desenvolver uma reflexão aprofundada do valor que os elementos que formam esse magnífico domínio de natureza tem para o homem local, as organizações humanas regionais, para o Brasil e para o Mundo, em todos os sentidos e aspectos, conduzido por um processo coletivo de sensibilização sobre os males socioambientais historicamente estabelecidos na região, desde os períodos ligados à extração do látex dos seringais, até a era da devastação incontrolada, originária nos fins da década de 1950, com a construção da Belém-Brasília e que persiste até a atualidade.

Sem uma correta avaliação dos potenciais da biodiversidade amazônica, aliada à coerente utilização de elementos naturais, não haverá condições necessárias para uma boa disposição de planos e políticas de ordenação das atividades econômicas locais e regionais. Entretanto, deve-se considerar que essas estratégias devem se orientar, sim, para a sustentação da economia nacional, mas que possam promover melhorias de condições de vida dos povos amazônicos, historicamente sofridos e sem muitas perspectivas.
Luiz Jorge Dias
Geógrafo - MSc. Sustentabilidade de Ecossistemas
Prof. Geografia Fìsica - UEMA\CESI\DHG

BREVES NOTAS SOBRE AS CARACTERÍSTICAS GEOAMBIENTAIS DA BAIXADA MARANHENSE

A Baixada Maranhense, segundo Maranhão (2003, p. 22), "[...] corresponde à região rebaixada e alagadiça dos rios Turiaçu, Pericumã, Pindaré e Mearim, marcada por uma rede hidrográfica divagante, com terraços e extensas planícies de inundação e lagos, além da presença de estuários onde ocorre a interação entre as águas fluviais e marinhas [...]".

No que tange aos aspectos geológicos e geomorfológicos da Baixada Maranhense, convém ressaltar que a área está contida numa faixa de contatos entre duas bacias sedimentares, a do Parnaíba ou Maranhão e a Bacia Costeira de São Luís, as quais são meso-estruturas geológicas diferentes, mas com uma história geocronológica comum.

Assim, aquela região apresenta-se como uma área geológica de contato entre tipos rochosos bastante díspares, pois embora esteja a maioria de tal célula espacial assentada sobre a formação Itapecuru, de idade cretácea, não há significativos afloramentos de tal unidade litoestratigráfica, implicando apenas num capeamento sedimentar de aluviões flúvio-marinhos holocênicos (MARANHÃO, 2002). No entanto, cabe ressaltar que, embora haja poucas unidades litológicas aflorantes, o espaço total da Baixada Maranhense sofreu sucessivos processos de (re) modelagens de suas estruturas paisagísticas, o que implica afirmar que há uma riqueza significativa de eventos concatenados que “desenharam” a sua configuração atual, isto partindo de uma abordagem macro-escalar para a escala regional.

Tais pressupostos são visíveis quando se analisa a área numa óptica mais contingente, extravasando-se os seus limites territoriais, alcançando até a Cordilheira dos Andes, e voltando as análises para tempos anteriores ao presente, em especial ao Cretáceo (onde houve a individualização das bacias costeiras, soerguimento dos altos estruturais divisores de bacias, falhamentos nos blocos rochosos da faixa costeira da América do Sul, abertura do Atlântico e “migração” da placa Sul-americana em direção à placa de Nazca), do Terciário (com o soerguimento dos Andes e da faixa costeira brasileira) e do Quaternário (com as flutuações climáticas e os conseqüentes episódios eustáticos, ora transgressivos, ora regressivos; últimos períodos de soerguimento da faixa costeira, que respondem por eventos de neotectônica; e reformulações sucessivas das paisagens).

Ante o exposto, com o rebaixamento por epirogênese da faixa adjacente àquela que sofreu soerguimento (faixa costeira), esta passou a sofrer episódicos eventos transgressivos e regressivos (AB’SÁBER, 1960), que culminaram em processos de degradação das formas de relevo regionais e logicamente deposição de sedimentos provindos de áreas mais elevadas, de tabuleiros pré-Baixada Maranhense e pré-litorâneos de bordas voltadas para a área de rebaixamento, em uma província geomorfológica flúvio-lacustre, que tem origens flúvio-marinhas (DIAS et. al., 2005).

Com uma grande complexidade ambiental, associada aos seus caracteres morfogenéticos, houve uma significativa correlação de tais fatos, com o desenvolvimento de solos diferenciados, com base argilosa, os plintossolos (MARANHÃO, 2002), bastante resistentes à percolação da água, com características voltadas para as condições propícias à inundabilidade das planícies pelos regimes chuvosos, uma vez que a precipitação média da região, segundo a mesma fonte, está compreendida entre 1.600 e 2.000 mm anuais, caracterizando um clima úmido, com duas estações bastante definidas: uma chuvosa (de janeiro a junho) e uma seca (de julho a dezembro).

Ademais, a Baixada Maranhense, pela presença de muitas e vastas áreas inundadas, configura ambientes aptos à formação de diversos tipos de solos, em que se destacam na área, segundo Maranhão (2002) solos hidromórficos lateríticos e sedimentos areno-argilosos (areais quartzosas). Sua profundidade é variável, dependendo da sua saturação com relação ao relevo. Apresenta o horizonte “A”, ligeiramente desenvolvido e maqueado (recoberto), enquanto no horizonte B o material é argiloso, muito intemperizado, rico em sesquióxidos e pobre em húmus.

A paisagem geomorfológica da Baixada Maranhense pode, então, ser compreendida a partir da justaposição de tais processos físicos, onde se destacam formas bem específicas, uma vez que tal região é uma vasta planície flúvio-marinha, com vastas áreas alagáveis durante o período chuvoso, com a monotonia de tal classe morfológica quebrada pela presença isolada de outeiros (AB’SÁBER, 1960; 2004), constituídos na sua grandiosa maioria de rochas sedimentares da formação Itapecuru.


Complementando tais informações, Maranhão (2003, p. 20), em se tratando da zona costeira maranhense (em que a área aqui enfocada se encontra), ressalta que há uma complexidade de fatos geomorfológicos, destacando-se, stricto sensu, terras baixas, tabuleiros e colinas (em pontos limítrofes da Baixada com outras províncias geológico-geomorfológicas), formas de acumulações fluviais, flúvio-marinhas e flúvio-lacustre (estas sendo acrescidas à referência), além de estuários. Fatos relevantes para um breve entendimento do contexto regional de máxima importância para o Estado e carente de planos, programas e projetos estratégicos que visem a melhoria das condições de vida humana e de manutenção dos ecossistemas locais e regionais.

Luiz Jorge Dias
Geógrafo - MSc. Sustentabilidade de Ecossistemas
Prof. Geografia Fìsica - UEMA\CESI\DHG

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

REFLEXÕES SOBRE O PROFISSIONAL DE GEOGRAFIA HOJE

A Geografia, por ser uma ciência que estuda as interações entre os componentes físicos, ecológicos e humanos existentes em um dado espaço, precisa sempre estar “conectada” aos avanços metodológicos, epistemológicos e conceituais que as suas disciplinas e ciências afins passam ao longo do tempo. No entanto, isso não tem sido feito com a rapidez necessária, mesmo perante a reformulação constante de abordagens, teorias e postulados, conceitos, procedimentos teórico-metodológicos e campos de atuação. Ademais, àquilo são adicionados aspectos ideológicos atinentes à própria concepção “moderna” da Ciência Geográfica, o que proporciona uma reflexão inversa e particularizada de apenas setores isolados que compõem a realidade.

Existem dois entraves particulares à Geografia que proporcionam com que ela seja relegada a um “escalão inferior no hall das ciências”: o primeiro diz respeito à sua abordagem nos estudos aplicados aos níveis fundamental e médio, em que a Ciência Geográfica é conhecida por um estereótipo crítico – “matéria-decoreba”, pois ainda se preocupa bastante com o ato de decorar conteúdos expostos, destacando-se nomes de lugares, de “acidentes geográficos”, de capitais, datas e coisas do gênero; não se concebem relações, como ela epistemologicamente propõe.
Já o segundo entrave é mais sintomático, pois envolve um histórico de conflitos ideológicos dentro das pesquisas acadêmicas, oriundas, ainda, do século XIX – a dicotomia da Geografia. De um lado, geógrafos ligados às ciências naturais, tentando converter a Geografia para o campo das práticas naturalistas, destacando aspectos físicos (naturais) e ecológicos (ou bióticos) das paisagens. De outro, a filosofia, a antropologia, a economia, a sociologia e a política puxam aquela ciência para uma visão mais crítica e aprofundada dos problemas sociais, destacando os sistemas produtivos opressivos como responsáveis diretos das mazelas pelas quais passam culturas e sociedades inteiras, do local ao global. Entretanto, di per si ambas por serem fragmentadas são incompletas e chegam a ser “caolhas”, ou seja, têm uma perspectiva unilateral da realidade.

Esse conflito de idéias se tornou mais acirrado com o movimento da Geografia Quantitativa (fins da década de 1950 e anos 1970), que propunha a naturalização e matematização da nossa Ciência, não destacando o homem como componente de paisagens e espaços; e com a Geografia Nova (a partir dos fins de 1970), em que a Geografia perdeu literalmente os componentes físicos e ecológicos, transformando-se em uma ciência-acessório às outras da área humana.

Em ambos os casos, por epistemologicamente a Geografia não dominar isoladamente análises de aspectos físicos, ou biótico-ecológicos e/ou humanos, o profissional saiu perdendo. Conseqüência: os geógrafos passaram a ser credenciados, socialmente, como “metafísicos do espaço” ou “teoréticos ao extremo”, o que se estende aos licenciados. Ademais, houve uma drástica perda de mercados e postos de trabalho para outros profissionais que, com um grande corporativismo e visão mais integrada das “partes” dos sistemas ambientais, acabaram por tomar para si parcelas significativas das atividades profissionais (inclusive as estabelecidas pela Lei – ver regulamentação de nossa profissão) que deveriam ser exercidas por geógrafos.

Em uma perspectiva atual, nada mais justo e necessário do que se voltarem as pesquisas geográficas para uma visão mais abrangente, sem deixar de ser específica, com holismo e críticas necessárias para o bom andamento dos diagnósticos, prognósticos e reflexões conceituais que possam vir a surgir no desenvolvimento das atividades profissionais do geógrafo ou do licenciado em Geografia.

É conveniente lembrarmos que um dos maiores destaques científicos, na atualidade, se encontra no enfoque dado às problemáticas ambientais, o que é justificado pelas perturbações que o homem causa e/ou potencializa sobre os diversos ambientes da Terra, no intuito de (re) produzir espaços. As atividades humanas passam a ser danosas ao equilíbrio dos geossistemas e, por conseqüência, de ecossistemas particularizados, o que pode, ao longo do tempo, implicar em irreversibilidade da sua constituição pré-perturbada.

A questão ambiental, portanto, é, de perto, um convite sério ao exercício da capacidade científica de transversalização de temáticas e abordagens, que possam vir a confluir numa perspectiva de análise integral sobre uma certa realidade, o que leva ao reconhecimento mais coerente e coeso das inter-relações existentes entre as sociedades, os elementos naturais e os ecológicos. E isso é o que fazem geólogos, biólogos, agrônomos, oceanógrafos, engenheiros das mais diversas especificidades, arquitetos e urbanistas, turismólogos, químicos e cartógrafos, obviamente dependendo da área (subentenda-se: espaço) as quais se cingem fenômenos interagentes passíveis de estudos articulados numa perspectiva abrangente, mesmo que partindo de análises reducionistas.

Agora, vejamos bem: uma das principais características epistemológicas da Geografia é o real entendimento das relações e associações existentes entre os elementos físicos e ecológicos (ou elementos naturais) e as atividades humanas, numa combinação de ações que configuram continuamente espaços. Desse modo, a Ciência Geográfica se encontra num campo privilegiado de ações e de campos de análises que concorrem para o ótimo reconhecimento do espaço e de sua composição, bem como de sua natureza e sistemas associados, de suas lógicas econômicas e de distribuição populacional, dos processos de formação territorial (temporalmente estabelecidos), das dinâmicas de conversão de elementos naturais em recursos, dentre outros, que ajudam a elaborar propostas coerentes de cenários passados e futuros e nortear planejamentos e tomadas de decisão.

Entretanto, indagamos: por que a Geografia, mesmo com todo esse “arsenal” profissional, ainda é subestimada nos diagnósticos e prognósticos ambientais? O que ocasionou a perda de mercado de trabalho desse profissional para outros especialistas, como aqueles já mencionados no corpo desse texto? Metodológica e conceitualmente, o que nos falta para uma inversão desse processo? São perguntas que ainda levarão tempo para respondermos... Isso se nos ativermos apenas ao ato de pensar, mas o ideal é pensar e agir pensadamente.

Luiz Jorge Dias
Geógrafo - MSc. Sustentabilidade de Ecossistemas
Prof. Geografia Fìsica - UEMA\CESI\DHG

Potencialidades Paisagísticas do Estado do Maranhão: Aspectos Físicos Preliminares

O Maranhão é um Estado brasileiro de grande importância ambiental, já que nele são presentes vários ecossistemas e regiões naturais de singular beleza e de particulares necessidades de conservação ambiental. Em outros termos, o Maranhão pode ser considerado como um imenso mosaico de faixas de transição e contato entre grandes Domínios de Natureza Brasileiros [conforme poderia afirmar o Prof. Aziz Nacib Ab’Sáber], já que aqui si encontram ambientas bastante notáveis e possui como limites ecológicos a Amazônia, os Cerrados e o Nordeste brasileiros, bem como os Domínios Costeiros.

Os climas maranhenses são muito variados e as características de alguns dos seus tipos de solos são muito boas e favorecem a agricultura e a criação de gado. O Maranhão é o único estado do Nordeste que possui regimes de chuva bastante intensos e a parte Oeste (ou ocidental) maranhense tem características amazônicas. A transição do domínio amazônico em território maranhense se dá para três outros domínios de natureza: o do Brasil Central (ou dos cerrados) e do Nordeste Brasileiro (representando pelo domínio da caatinga, que embora não exista bem representada no Estado, apenas no Piauí, nele se caracteriza uma faixa de transição atualmente representada pelos domínios biogeográficos da mata dos cocais e de uma faixa ao longo do rio Parnaíba conhecida como “carrasco”). O terceiro Domínio é o Costeiro, dotado de originalidades bem marcantes, com uma bem característica presença de manguezais, baixadas costeiras, dunas, restingas, arquipélagos, dentre outros constituintes geográficos presentes na interface terras firmes e mar do Estado.

O Centro-Sul Maranhense possui os cerrados como feição de paisagens bióticas dominantes. Nessa região predominam as formas geológicas e de relevo de clima tropical semi-úmido, as conhecidas chapadas, esculpidas a partir da ação do clima em rochas de idade superior a 70 M.A. (Milhões de Anos), ou seja, de origem na Era dos Dinossauros [Era Mesozóica]. Naquela época, o sul do Maranhão possuiu uma grande concentração de vulcões, que hoje estão inativos. Aí, além dos extesos chapadões, encontram-se cânions e depressões periféricas, que dotam os vastos espaços dos Cerrados Sul-Maranhenses de mosaicos bem definidos de coberturas vegetais e de biodiversidade animal associada.

A Planície Fluvial é, antes de tudo, uma região de transição de altitudes entre a zona costeira e os chapadões do interior do Estado. É um domínio regional onde as altitudes não ultrapassam os 200 metros. Permeia a sua extensão os médios e (partes dos) baixos vales dos grandes rios genuinamente maranhenses, a saber: Pindaré, Grajaú, Mearim, Itapecuru e Munim. Este domínio ambiental tende a, antes de atingir (relativo ao nível do mar) o litoral, passa à condição geográfica de planície flúvio-marinha (ou Baixada Maranhense), configurado os limites da costa maranhense no continente.

A região da Baixada Maranhense é bastante especial, também, por concentrar uma presença considerável de lagos e campos inundáveis ou encharcáveis, além de ser uma área de configuração bastante recente, em termos de tempo geológico e de formas de relevo. O nome planície flúvio-marinha indica que essa região natural teve suas origens a partir dos avanços e recuos do nível do mar, isso especialmente durante os últimos 120 mil anos, indicando que ora a região da Baixada era terra firme, ora fundo de mar, ora um meio termo entre ambos.

A costa maranhense é dividida em três partes [meso-compartimentos de articulação geomorfológica costeiros] principais: a Costa/Litoral Ocidental; o Golfão Maranhense; e a Costa Oriental. A Costa/Litoral Ocidental do Maranhão tem como principais características a presença espacialmente alongada de manguezais, que são típico de áreas litorâneas associadas ao encontro das águas dos rios com o mar. Também se deve lembrar que os manguezais são um verdadeiro berçário natural, além de conter variações de mangue (como o vermelho – predominante, o siriba e o branco). Os portes das árvores destes manguezais atingem até 40 metros de altura, pode-se bem dizer que esses exemplares são dos mais altos do Brasil e mesmo do mundo.

O Golfão Maranhense é uma região específica em se tratando de costa: além de ser a maior reentrância da zona costeira do Estado, é o maior complexo estuarino (ambientes onde os rios se encontram com o mar) do Maranhão, concentrando os estuários dos maiores rios genuinamente maranhenses (numa sentido Oeste – Leste): Pericumã, Sistema Hidrográfico Coalescente do Mearim, Itapecuru e Munim. Sua situação geográfica é preponderante na influência conjunta do mar e dos rios. É nesse espaço que está situada a Ilha do Maranhão, também denominada de Ilha de São Luís. Compreende a região mais populosa do Estado (aproximadamente 1/5 da população maranhense), constituída pelos municípios de São Luís (capital do Estado), São José de Ribamar (“cidade santuário”), Paço do Lumiar e Raposa. O processo de ocupação histórico (da Ilha, de Guimarães, de Alcântara, de Icatu, Humberto de Campos e Primeira Cruz) com sua diversidade de culturas e etnias envolvidas, caracteriza essa região como um verdadeiro “caldeirão cultural”, contextualizando vários tipos de manifestações.

A Costa Oriental Maranhense é bem caracterizada por duas regiões naturais únicas: a presença de extensos campos de dunas fixas e móveis, que culminam no espaço dos Lençóis Maranhenses e o Delta do Parnaíba. O primeiro, os Lençóis Maranhenses são um campo de dunas de grandes dimensões e ausência de grandes rios desaguando no litoral, além de poucas reentrâncias, sendo o litoral mais retilíneo, com domínio das restingas. Um erro grave que é recorrente no marketing turístico que se faz de tal região é de que ela é um deserto. Porém, o que se observa é que deserto é uma área onde há aridez caracterizada (ausência de chuvas ou quase escassez da mesma), algo que por lá não ocorre, já que há alternância entre épocas chuvosas (bastante intensas de janeiro a junho) e secas (julho a dezembro); se este processo não acontecesse, não haveria a formação de lagoas temporárias e/ou permanentes no Parque dos Lençóis.

Já o Delta do Parnaíba é um complexo paisagístico com mais de 80 ilhas, dunas e manguezais; a foz do Rio Parnaíba forma um delta ramificado, que se espalha imitando os dedos de uma mão aberta, por cinco barras - Igaraçu, Canárias, Caju, Melancieira e Tutóia. Ocupa 2,7 mil km2 na divisa Norte entre o Maranhão e o Piauí, sendo que a maior parte, 70%, fica em território maranhense. Na verdade o delta da Parnaíba não é o único delta das Américas, mas, sim, o maior, em se tratando de número de ramificações, formação de ilhas, conjunção de elementos distintos (como dunas e manguezais). É, ainda, o único delta em mar aberto da América, caracterizado por ser um ambiente em que o rio verdadeiramente avança sobre o oceano Atlântico.


Belezas como essas fazem do Maranhão um dos mais ricos estados do Brasil e um dos mais lindos locais do mundo. Infelizmente vem sendo mal-tratado por muitas ações lesivas ao nosso patrimônio ambiental herdado de uma pré-histórias física, ecológica e humana riquíssimas. As ações da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Naturais não tem medido esforços na contenção dos processos lesivos aos nossos ecossistemas e sua equipe tem desenvolvido bons trabalhos de conservação da natureza e ajuda na promoção de atividades que visem o desenvolvimento sustentável local e regional. É preciso conhecer mais a sua realidade ambiental e humana para preservamos as suas riquezas.

P.S.: Como os leitores e colegas podem ter observado, não discutimos nesse artigo nenhum aspecto relacionado às Matas dos Cocais. Isso foi estabelecido de propósito, uma vez que nos próximos textos apresentaremos um que versará especificamente sobre temáticas a elas associadas. Aguardem!

Luiz Jorge Dias
Geógrafo – Mestre em Sustentabilidade de Ecossistemas

Prof. Geografia Física – UEMA\CESI\DHG

Discussões Necessárias em Geografia do Maranhão

Aproveitando o convite ou provocação feita por alguns colegas de profissão (e começada por mim), acredito que devemos começar a discutir academicamente sobre as potencialidades do Estado do Maranhão, com sua diversidade e adversidades. Sobre os compartimentos de relevo da Serra do Penitente ou Baixada Maranhense, ou mesmo refletir sobre os novos modelos e estruturas econômicos instalados no Estado ao lado do panorama desgraçado e desassistido da população dos vales do Mearim ou do Munim.

Podemos, ainda, apresentar comentários sobre os possíveis núcleos de desertificação nos municípios do médio Parnaíba Maranhense, bem como suas repercussões nas comunidades de pequenos lavradores que vivem em espaços dotados de tanta calamidade social.Quem sabe podemos tecer comentários sobre o Projeto (ex-PAC do) Rio Anil, com suas propostas e dotações de infra-estruturas, bem como o PAC do Bacuri, em Imperatriz, que já estão a todo vapor. Podemos discutir como os agentes sociais envolvidos (governo, sociedade civil organizada, empresas, pessoas da população a ser reassentada) se comportam e quais cenários podem se configurar frente a uma lógica urbana ainda nunca dantes observada na história do Estado.

Quais os pontos de vista sobre os novos empreendimentos a serem instalados no Maranhão? Temos a sojicultura se ampliando, a possibilidade de sermos um pólo produtor de biodísel (de cana, milho, girassol e bambu...isso mesmo, bambu!), siderúrgicas sendo instaladas, termoelétricas em curso, bem como o aumento da construção civil em alguns pólos urbanos do Estado. O plantio de coco d'água está em processo de ampliação e as matrizes clássicas de nossa economia estão em processo de transformação. Que discussões podemos levantar sobre geoeconomia?

Tem ainda a possibilidade de criação de novas unidades de conservação em São Luís, em Imperatriz, em Buriti-Duque Bacelar-Coelho Neto, em Balsas... Tem sítios fossilíferos sendo encontrados e catalogados, com as árvores mais antigas do Brasil e isso lá no Baixo Parnaíba [particularmente me orgulho de ter encontrado um desses sítios no ano de 2007, com um outro colega geógrafo de grande experiência em trabalhos de campo, o Raimundo Monteles, da SEMA-MA, em excursão desenvolvida naquela região. Mas isso é assunto para outro texto..].

Ainda tem a questão da possível criação da Reserva Extrativista do Taim, a ser criada exatamente no Distrito Industrial-Portuário, e que a Universidade abraçou substancialmente a idéia, sem avaliar os seus impactos sobre a inviabilização do Sistema Portuário de São Luís com a sua implantação.Outra questão necessária sobre conservação, por exemplo, é o uso das águas superficiais do Rio Pequiá para alimentação industrial do Distrito de Pequiá, em Açailândia. O rio acaba por ser a única fonte de/para captação da água, mas o mesmo vem passando por sérios problemas ao longo de seu curso, o que poderá comprometer a atividade industrial no Oeste Maranhense.

É conveniente, ainda, centrarmos atenções sobre as espacialidades originadas a partir do desenvolvimento da sojicultura e como as suas heterogêneas territorialidades têm contribuído significativamente para a integridade do domínio dos Cerrados sul-maranhenses, bem como para a expansão de máscaras socioeconômicas. Todos somos sabedores que não apenas Açailândia e Bacabal, p.ex., são núcleos de desenvolvimento de trabalhos escravos. Talvez alguns espaços circunscritos à região do "Triângulo da Soja" (entre São Domingos do Azeitão, Riachão e Alto Parnaíba, passando por Balsas e Tasso Fragoso) vigore como um espaço de maior concentração de trabalhadores, que se não forem escravos, trabalham em regime de semi-escravidão, tendo, algumas vezes, 45 dias de trabalhos initerruptos e apenas 02 ou 03 dias de folga nesse período. Ora, não vemos ninguém discutir sobre isso...Por quê? Por outro lado, pouco se conhece sobre as dinâmicas espaciais da sojicultura no Alto - Médio Munim e região de entorno (Chapadinha, Mata Roma, Anapurus, Brejo...), chegando até o Baixo Paranaíba (Buriti). Quais são as dinâmicas socioeconômicas desses núcleos "novos" de plantio de soja?

Bom, quanto ao quesito desertificação, é importante frisar que tal fenômeno espacial é passível de ser desenvolvido em áreas sujeitas a três tipos de aspectos geoambientais, em especial: caracterização climática - clima sub-úmido, tendendo a seco (precipitações entre 850 - 1.100 mm/ano); super-utilização dos solos de forma predatória pelas atividades humanas, concorrendo para a origem de núcleos de arenização e consequente carreamento de nutrientes e de coberturas de solo; mudanças ambientais regionais, que podem ser um reflexo das mudanças das posições dos domínios de natureza por "resistasia", que pode ser natural ou induzida. No Maranhão, municípios como Barão do Grajaú, Paranarama, São João dos Patos, São Félix de Balsas, Balsas, Loreto e Benedito Leite, dotados dessas características, possuem, hoje, núcleos fortes de arenização, que é o primeiro estágio de irreversibilidade dos danos causados aos solos e conseqüentemente aos sistemas ambientais físicos, bióticos e sociais de entorno. Daí para iniciar a desertificação se está a um passo...Também podemos discutir sobre o papel da Geografia no Maranhão para a compreensão do Maranhão.

É hora, caros leitores e colegas, de pensarmos no que a Geografia Maranhense tem feito pelo Maranhão. Desculpem-me os conservadores (críticos pela crítica), mas digo que fazemos, sim, bastante coisa. Desculpem-me os sonhadores, mas afirmo categoricamente que o que fazemos ainda não é o suficiente e nem o necessário. Está na hora, como diria Kapra, do ponto de mutação de uma ciência acadêmica e ideológica (e quase metafísica) para uma ciência pragmática, centrada na realidade e nos fatos!Assim, sendo convido a todos e a todas a discutirmos sobre o nosso Maranhão. Um Maranhão sob Perspectivas Geográficas! Que 2009 seja esse ano do “ponto de mutação” de uma Geografia do Maranhão para o Maranhão, menos carregada de metafísica e mais bem dotada de aplicabilidade prática nas realidades físicas, ecológicas e socioeconômicas e socioculturais do nosso Estado.

Luiz Jorge Dias
Geógrafo – Mestre em Sustentabilidade de Ecossistemas
Prof. Geografia Física – UEMA\CESI\DHG