quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

PARA DIVULGAR: DECRETO DE CRIAÇÃO DA APA DOS MORROS GARAPENSES (MA)

DECRETO Nº 25.087 DE 31 DE DEZEMBRO DE 2008
Cria a Área de Proteção Ambiental do Morros
Garapensenses,com limites que especifica,
e dá outras providências.
O GOVERNADOR DO ESTADO DO MARANHÃO, usando das atribuições que lhe confere o Artigo 64, Inciso III, da Constituição do Estado do Maranhão, e tendo em vista o Artigo 2º, Inciso IV e o Artigo 4º, Inciso II e VI, da Lei Federal Nº. 6.938, de 31 de agosto de 1981 (Política Nacional do Meio Ambiente); o Artigo 22, § 2º, da Lei Federal Nº. 9.985, de 18 de julho de 2000 (Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza); os Artigos 2º, 3º e 4º do Decreto Federal Nº. 4.340, de 22 de agosto de 2002; os Artigos 31 e 51 da Lei Estadual Nº. 5.405, de 08 de abril de 1992 (Código de Proteção do Meio Ambiente do Estado do Maranhão); e os Artigos 2º, 4º, 22, 24, Inciso I, e 25, Parágrafo 4º, da Lei Estadual Nº. 8.528, de 07 de dezembro de 2006 (Política Florestal e de Proteção à Biodiversidade no Estado do Maranhão),
Considerando que os Cerrados Brasileiros compreendem um domínio de natureza bastante frágil e em ritmo acelerado de devastação, urgindo-se a criação de Unidades de Conservação para a proteção de sua biodiversidade, já que os mesmos são denominados internacionalmente como hot spots, ou seja, espaços de grande predisposição à extinção da fauna e flora;
Considerando ser necessário que o Estado do Maranhão crie uma Unidade de Conservação do Grupo de Uso Sustentável no Baixo Parnaíba Maranhense, conforme demandas provenientes das populações da Região;
Considerando que a Região do Baixo Parnaíba Maranhense é de extrema importância biológica e de alta criticidade quanto à perda de biodiversidade, conforme o Documento do Ministério do Meio Ambiente (MMA) intitulado “Áreas Prioritárias para a Conservação, Uso Sustentável e Repartição de Benefícios da Biodiversidade Brasileira: Atualização – Portaria MMA Nº. 09, de 23 de janeiro de 2007”;
Considerando a necessidade de proteger faixas de transição e contato entre os Cerrados Norte-Maranhenses e as Matas dos Cocais (carnaubais e babaçuais, em sua maioria) do Leste do Estado, bem como fauna associada;
Considerando que os municípios de Buriti, Duque Bacelar e Coelho Neto possuem um dos maiores sítios paleobotânicos do Brasil, com fósseis vegetais de idade permiana (mais de 250 milhões de anos), distribuídos em áreas ora contínuas, ora espaçadas;
Considerando a grande diversidade de ecossistemas regionais representativos, que funcionam como habitat de espécies nativas e migratórias, bem como refúgios de vida silvestre proveniente de áreas já devastadas pelas atividades humanas;
Considerando a manutenção da biodiversidade na Bacia do Baixo Parnaíba Maranhense, permitindo o desenvolvimento futuro de estudos comparativos com áreas da mesma região já ocupadas e modificadas por ações antrópicas cumulativas e predatórias;
Considerando a necessidade de criação de espaços naturais de conservação da biodiversidade e fomento à Educação Ambiental e ao Turismo Ecológico, de Aventura ou Científico;
Considerando a necessidade de conservação da cobertura vegetal para manter os padrões climáticos ora dominantes, tendo em vista a possibilidade de formação de “ilhas de calor” em toda a Região do Baixo Parnaíba Maranhense;
Considerando a necessidade de recuperação de ecossistemas degradados, com a reinserção de espécies nativas e frutíferas para a formação de corredores ecológicos entre os grandes fragmentos de ecossistemas regionais ainda bem conservados e que possam favorecer o equilíbrio ecológico e a manutenção da biodiversidade;
DECRETA
Art. 1º. Fica criada entre os municípios de Buriti, Duque Bacelar e Coelho Neto, no Baixo Parnaíba Maranhense, a Área de Proteção Ambiental (APA) dos Morros Garapenses, com uma área total de 234.767,9097 ha (duzentos e trinta e quatro mil, setecentos e sessenta e sete hectares e nove mil e noventa e sete ares).
Parágrafo Único: Competirá à SEMA-MA a gestão da Área de Proteção Ambiental dos Morros Garapenses, propondo e executando a articulação de atividades econômicas locais e regionais com a conservação adequada dos recursos naturais, promovendo o desenvolvimento sustentável na Região do Baixo Parnaíba Maranhense.

Art. 2º. A delimitação da Área de Proteção Ambiental dos Morros Garapenses ficará estabelecida pela intersecção de pontos com as seguintes coordenadas geográficas (Latitude e Longitude):
PONTOS
01 - -03º 52' 25,70984'' Sul / 42º 43' 09,86097'' Oeste
02 - -03º 54' 34,78964'' Sul / 42º 43' 32,76776'' Oeste
03 - -03º 55' 44,11952'' Sul / 42º 44' 29,15455'' Oeste
04 - -03º 41' 23,55940'' Sul / 43º 07' 20,94896'' Oeste
05 - -04º 01' 20,33043'' Sul / 43º 12' 33,66290'' Oeste
06 - -04º 13' 22,65066'' Sul / 43º 25' 43,77285'' Oeste
07 - -04º 14' 01,34986'' Sul / 42º 59' 19,57128'' Oeste
08 - -04º 12' 51,59014'' Sul / 42º 58' 53,65488'' Oeste
09 - -04º 10' 07,22925'' Sul / 42º 56' 36,65690'' Oeste
10 - -04º 09' 23,04033'' Sul / 42º 55' 33,95210'' Oeste
11 - -04º 09' 18,92913'' Sul / 42º 53' 15,86690'' Oeste
12 - -04º 07' 29,93949'' Sul / 42º 54' 11,06211'' Oeste
13 - -04º 06' 26,31993'' Sul / 42º 52' 25,66131'' Oeste
14 - -04º 04' 38,90997'' Sul / 42º 51' 19,65892'' Oeste
15 - -03º 59' 14,43981'' Sul / 42º 48' 53,77614'' Oeste
16 - -03º 59' 46,54892'' Sul / 42º 47' 50,95974'' Oeste
17 - -03º 57' 24,74997'' Sul / 42º 47' 03,66295'' Oeste
Deste Ponto 17, seguindo em linha reta até o Ponto 01, fecha-se o polígono desta área, que é de 226,089 Km (duzentos e vinte e seis quilômetros e oitenta e nove metros).

Art. 3º. Caberá à SEMA-MA, em conjunto com os seus parceiros, propor ou proceder estudos de interesse científico, social e cultural, com o objetivo de salvaguardar o patrimônio natural, ecológico e cultural da Área de Proteção Ambiental dos Morros Garapenses.
Art. 4º. Competirá à SEMA-MA e seus parceiros proceder a estudos de caráter técnico-científicos, bem como aplicar programas de educação ambiental, recuperação de áreas degradadas, disciplinar e fiscalizar a área e formular a realização de convênios, acordos de cooperação técnico-científica em âmbito nacional e internacional que venham beneficiar o ordenamento territorial e a conservação da biodiversidade e do patrimônio ambiental.
Art. 5º. Caberá à SEMA criar um conselho consultivo ou deliberativo da Área de Proteção Ambiental dos Morros Garapenses, que será presidido pelo Administrador da Unidade, para apoiar a implementação das atividades e do Plano de Manejo.
Art. 6º. Caberá à SEMA-MA intensificar atividades de fiscalização ambiental na Área de Proteção Ambiental dos Morros Garapenses, com a finalidade de coibir crimes ambientais, contra o Patrimônio Natural e práticas nocivas ao desenvolvimento sustentável regional e à manutenção da biodiversidade e das populações locais;
Art. 7º. O Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental dos Morros Garapenses deverá ser elaborado no prazo de até 05 (cinco) anos a partir da data de publicação deste Decreto.
Parágrafo Único: Entende-se por Plano de Manejo o documento técnico-científico mediante o qual, com fundamentos nos objetivos gerais da Unidade de Conservação, se estabelece o seu zoneamento e as normas que devem presidir o uso da área e o manejo adequado, caso possível, dos recursos naturais, inclusive a implantação das estruturas físicas necessárias à gestão da Unidade.
Art. 8º. Caberá à SEMA-MA, em conjunto com seus parceiros, identificar áreas sujeitas à instalação de canteiros de produção de mudas de espécies nativas, com finalidade de reflorestamento de áreas degradadas e reintrodução de espécies ameaçadas de extinção.
Art. 9º. Competirá à SEMA-MA desenvolver programas de Educação Ambiental e Fiscalização continuadas com a finalidade de coibir a caça ilegal e práticas de pesca predatória, ambas bastante nocivas à biodiversidade regional;
Art. 10. Caberá à SEMA-MA, em conjunto com seus parceiros de nível municipal, estadual e federal, bem como da sociedade civil organizada, dispor sobre a identificação de espaços menores, circunscritos à Área de Proteção Ambiental dos Morros Garapenses, ou no entorno da Unidade, para a criação de Unidades de Conservação de outras tipologias, em especial para salvaguardar o patrimônio fossilífero presente na região.
Art. 11. Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

PALÁCIO DO GOVERNO DO ESTADO DO MARANHÃO, EM SÃO LUÍS, 31 DE DEZEMBRO DE 2008, 187º DA INDEPENDÊNCIA E 120º DA REPÚBLICA.
JACKSON LAGO
Governador do Estado do Maranhão

ADERSON LAGO
Secretário-Chefe da Casa Civil

OTHELINO NOVA ALVES NETO
Secretário de Estado de Meio Ambiente e Recursos Naturais

A PROPÓSITO DA CRIAÇÃO DA APA DOS MORROS GARAPENSES, NA REGIÃO DO BAIXO PARNAÍBA MARANHENSE

Prof. Luiz Jorge B. Dias
Geógrafo - MSc. Sustentabilidade de Ecossistemas
Professor de Geografia Física - UEMA\CESI\DHG
A articulação dos espaços geográficos, considerando seus elementos naturais (abióticos) e ecológicos (bióticos, ou aqueles dotados de vida; biodiversidade), é considerada como ferramenta indispensável para o bom aproveitamento socioeconômico e sociocultural dos recursos ambientais[1] disponíveis, obviamente seguindo uma matriz sustentável. No contexto das temáticas ambientais, merecem destaque as que orientam para a preservação e/ou conservação da biodiversidade, bem como dos patrimônios físicos ou naturais.
Esses esforços são cada vez mais necessários, especialmente em áreas pressionadas pelo incremento de processos de superposição de usos da terra (em áreas rurais) e/ou do solo (em áreas urbanas), o que acaba por gerar conflitos de uso e ocupação e de manutenção de estoques de caracteres ecológicos originais (DIAS, 2008). A conjugação dos componentes ambientais com a ocupação e/ou utilização dos espaços disponíveis deve ser vista sob o prisma do planejamento espacial, que, por seu turno deve conduzir ao ordenamento territorial. Este, por seu turno, é indispensável para a indicação das estratégias de intervenção, ou seja, de orientações de políticas públicas coerentes e coesas em uma certa área, como é o caso da criação de áreas potenciais à conservação.

O Estado do Maranhão, por estar situado entre quatro grandes domínios de natureza intertropicais (quais sejam: Terras Baixas Florestadas Amazônicas, Cerrados, Caatingas e Faixas de Transição e Contatos Biodiversos), compõe um mosaico diferenciado de paisagens (AB’SÁBER, 2003) e de usos dos elementos naturais bióticos e abióticos disponíveis (DIAS, 2006).

Sua situação geográfica privilegiada permite com que essa Unidade Federativa seja a via de acesso entre os corredores populacionais, produtivos e de exportação que interligam as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, ligando-as entre si, bem como com os espaços nacionais e internacionais receptores das matérias-prima e produtos que passam em seu território.

Conclui-se aprioristicamente que, por seu potencial ambiental e por sua vocação portuária e industrial, o território maranhense poderá ser palco, nos próximos anos, de grandes e significativos empreendimentos industriais e agropecuários, geradores de divisas financeiras e de articulação de espaços em função das cadeias e lógicas produtivas a serem desenvolvidas e articuladas com as pré-existentes. Associado a isso é indispensável que, atualmente, possam ser pensadas estratégias de conservação da biodiversidade remanescente, o que é, no mínimo, razoável ante as perspectivas de incremento de formas heterogêneas de utilização e ocupação dos elementos ambientais.
O Nordeste Maranhense, em que pese o espaço total dos municípios de Buriti, Duque Bacelar e, pró-parte, Coelho Neto, é dotado de potencialidades paisagísticas físicas e ecológicas que permitem com que ele seja indicado como área relevante para a criação de Unidades de Conservação da Natureza. Os seus elementos geológicos, geomorfológicos, ecológicos e paisagísticos (integralmente) nos condicionaram a propor a criação da APA dos Morros Garapenses ao então Secretário de Estado de Meio Ambiente e Recursos Naturais do Maranhão, Dr. Othelino Neto.
Ficamos particularmente felizes com a criação daquela UC, considerando estudos coordenados por nós com analistas ambientais e consultores da SEMA-MA entre abril e agosto de 2008, no último dia do ano de 2008, coincidentemente o último de nosso ex-secretário à frente da SEMA-MA. Isso foi expresso na publicação do Decreto Estadual Nº. 25.087, de 31 de dezembro de 2008, cuja redação, na íntegra (conforme publicação no Diário Oficial do Estado do Maranhão) segue na próxima postagem. Espero que isso possa incentivar aos nossos colegas e alunos a se inserirem mais assertivamente nos campos da Geografia da Natureza e da Conservação Ambiental.

[1] Compreende-se como elementos ambientais quaisquer que sejam os componentes de natureza física ou abiótica (rochas, solos, águas, climas e condições meteorológicas, etc.), ecológica ou biótica (seres vivos) e/ou humanos que componham um território. Os recursos ambientais, por seu turno, são elementos ambientais que passam a ter valor de uso e/ou de troca pelos seres humanos (DIAS, 2006).

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

SOBRE A POSSIBILIDADE DE EXPANSÃO DA AVENIDA LITORÂNEA NOS MUNICÍPIOS DA ILHA DO MARANHÃO

Por: Luiz Jorge Dias
Geógrafo - MSc. Sustentabilidade de Ecossistemas
Prof. Geografia Física - UEMA\CESI\DHG
A Capital Maranhense e a ilha em que ela está situada apresentam atualmente um mosaico bastante recortado das paisagens naturais, reduzidas significativamente pelos processos de ocupação de espaços para a consolidação de zonas destinadas ao assentamento populacional humano (conjuntos habitacionais, condomínios de diversos tipos, áreas de ocupação, loteamentos legais ou não). A esses esforços de “articulação” de novos espaços urbanos somam-se o incremento das atividades econômicas industriais e expansão das fronteiras produtivas em espaços dantes agrícolas e agora de uso misto, com indiferenciadas formas de utilização dos elementos ambientais disponíveis.

Desde a década de 1970 as áreas próximas às faixas litorâneas do setor Norte da Ilha do Maranhão[1] passaram por incorporações diferenciadas de novas áreas, com a finalidade de atender demandas advindas pelo crescimento populacional da Capital Maranhense, uma vez que, além de serem requeridos novos locais para moradias (atuais São Francisco e Ponta d’Areia), também foram dispostas novas áreas destinadas ao lazer (setor praias, desde a Ponta d’Areia, passando por São Marcos, Calhau e Caolho). Há que se destacar que a superposição daqueles dois tipos de uso promoveu uma estruturação diferenciada das funções urbanas daquele setor areal em expansão. Isso teve por conseqüência a articulação de várias infra-estruturas, bens e serviços que, em conjunto, favoreceram a especulação imobiliária, principalmente aquelas associadas ao lazer.
Assim foram construídas a Avenida Ana Jansen (que represou as águas do igarapé de mesmo nome, originando a Laguna da Jansen – meados da década de 1970) e a Avenida dos Holandeses. Foi demandado o prolongamento da Avenida Colares Moreira em direção à praia do Calhau, além da construção da Avenida Litorânea, que passou a ligar a Avenida dos Holandeses, em seu setor Oeste, até a praia do Caolho, onde teve seu marco construtivo final datado de 1993, por causa da presença de um campo de dunas (DIAS, 2004; DIAS; COSTA, 2007).
Tendo em vista a necessidade de retomada de discussões acerca da possibilidade de expansão da Avenida Litorânea até a Praia do Araçagi, é imprescindível que sejam buscadas e desenvolvidas informações cruciais para o enriquecimento do debate e seu principal intuito não é o de barrar quaisquer esforços de desenvolvimento de projetos dessa natureza, mas apresentar dados e informações técnico-científicas indispensáveis à discussão ora desencadeada. A esse argumento soma-se o fato de haver necessidade de composição de um cabedal de informações confiáveis para a articulação das políticas públicas relacionadas ao Programa Estadual de Gerenciamento Costeiro (GERCO – MA), consideradas fundamentais para a gestão ambiental do Estado do Maranhão.
Em qualquer que seja o diagnóstico de potencialidades territoriais, tendo em vista a previsão ou comparação de cenários e tendências, há necessidades de reconhecimentos integrados dos elementos que compõem o estrato ambiental, dispostos em sua totalidade (ROSS, 2006). Em um exercício de articulação de tendências ambiental em nível local não poderia ser diferente. No entanto, a integralidade de conhecimentos, metodologicamente, somente se torna viável a partir da compartimentação específica dos conhecimentos adquiridos sobre aspectos físicos, ecológicos e humanos gerais e específicos, bem como do confronto dos mesmos com as pesquisas de campo (DIAS, 2006).
Esses condicionantes devem ser vislumbrados durante a articulação dos estudos técnico-científicos nas praias de São Marcos, Calhau, Caolho, Olho d’Água, Meio e Araçagi, que compõem o setor NNW-N da Ilha do Maranhão. Ainda segundo Dias (2006b, p. 48), “[...] reconhecimento das características físicas de um determinado espaço é um exercício necessário para a análise das condições que sustentam as dinâmicas ecológicas e humanas [...]”.
Nesse sentido, Tricart (1976, p. 20) afirma que "[...] o conhecimento do quadro natural permite observar a acuidade do perigo de degradação, classificar unidades naturais em função de sua susceptibilidade. É uma operação preliminar indispensável sempre que se quiser lançar programas de conservação [...]".
É assim que se torna possível o enquadramento dos sistemas ambientais numa perspectiva interagente, passível de verificação dos padrões de modificações, do local ao global. Portanto, “[...] primeiramente definimos as interdependências entre os diversos aspectos do meio natural. [...] Em seguida, examinados o meio ambiente como sistema e estudamos sua estrutura [...]” (TRICART, 1975, p. 08).
Nas projeções de cenários ambientais os diagnósticos dos elementos do meio físico deve ser evidenciados, considerando as características relacionadas à Geologia e à Geomorfologia. Os condicionantes do meio biótico devem ser reduzidos à caracterização e demonstração espacial dos principais tipos de ambientes físicos que condicionam a existência de comunidades biológicas (ecossistemas). Por fim, devem haver referências aos principais tipos de uso e ocupação do espaço disponível para expansão.
Antes de prosseguir nessa temática, há necessidade de estabelecer diferenciação conceitual entre litoral e costa. O primeiro, litoral, é considerado como a faixa superficial associada ao mar (independente da tipologia ecossistêmica) que é coberta e descoberta pelas marés em seus ciclos de preamar e baixa-mar, que podem ser de diferentes ritmos, o que não convém discutir neste Documento.
Já o termo costa caracteriza um ambiente mais amplo, em que existem conjugações, associações e interações entre elementos (matéria e energia) e processos de terras firmes, climáticos e oceanográficos. Por isso, é comum falar de zona costeira, que é um espaço bastante variável, de lugar para lugar, em que são notadas interferências múltiplas de procedências litosféricas (terras firmes, continentes), atmosféricas e marinhas.
Por conserguinte, para estudos dessa natureza e significado são exigidos exercícios de projeção de cenários associados à zona costeira que devem obrigatoriamente considerar três aspectos especiais: dinâmica das paisagens, uso e ocupação e possíveis tendências de elevação do nível do mar com respostas ambientais possivelmente danosas aos sistemas urbanos, econômicos e ambientais.
Para que sejam desenvolvidas atividades que interfiram nas dinâmicas sistêmicas dos ambientes associados aos espaços costeiros, em que pesem os litorâneos, há iminentes necessidades de reconhecimento dos processos oceanográficos físicos atuantes nos perfis de praias, bem como a distribuição de materiais ao longo da orla, responsáveis por tendências de erosão ou agradação da linha de costa. Informações cruciais para quem pensa intervir em ambientes geológica, geomorfológica e ecologicamente tão instáveis quanto esses.
[1] A ilha na qual está a Capital Maranhense não se chama “São Luís”, conforme é conhecida popularmente. Seu nome é “Ilha do Maranhão”, por corresponder, dentre elementos históricos do processo de colonização francesa, ao maior tabuleiro insular do Estado (AB’SÁBER, 2004; DIAS; FERREIRA, 2004), que, para efeitos de informações técnico-científicas, convencionou-se referir.

BREVES NOTAS SOBRE A GEOLOGIA E A GEOMORFOLOGIA DO SETOR IMPERATRIZ - JOÃO LISBOA (MA)

A Geologia Regional do Setor Imperatriz – João Lisboa tem como principal característica a presença aflorante e/ou subsuperficial rasa de rochas da Formação Codó e da Formação Itapecuru, ambas correspondentes a ambientes de sedimentação de idade cretácea (entre 130 – 90 M.A.[1]). Tais feições geológicas são ocorrentes na Bacia Sedimentar do Parnaíba ou Maranhão, cuja extensão total abrange os estados do Maranhão, uma pequena faixa do Leste do Pará (próximo ao “Bico do Papagaio”), Norte e Leste do Tocantins, Piauí, Oeste do Ceará e extremo Noroeste da Baía, perfazendo um total aproximado de 600.000 km2 de área total (PETRI; FÚLFARO, 1983). O Sul do Município de João Lisboa apresenta, ainda, coberturas sedimentares da Formação Grajaú, que é de idade Carbonífera, ou seja, com idade aproximada de 350 M.A. (MARANHÃO, 2002).

Quanto à Geomorfologia Regional, Imperatriz, stricto sensu, está situada entre duas unidades de relevo representativas da Região Tocantina: a Superfície Maranhense com Testemunhos e a Depressão Periférica do Tocantins – subsetor Imperatriz. A primeira equivale a uma região fisiográfica bastante arrasada por ciclos de erosão Plio-Pleistocênicos (entre 5 M.A. e 20.000 A.P.
[2]), originando topografias residuais (morros testemunhos), em compartimentos colinosos, com pedimentação (deposição generalizada de sedimentos) de fundos de vales bastante alargados.

Aquela feição precede a Depressão Periférica do Tocantins – subsetor Imperatriz, que equivale a uma área rebaixada por esforços tectônicos de epirogênese por sobre linhas de falha ativas durante os fins do Terciário a meados do Pleistoceno (entre 10 M.A. e 100.000 A.P.). Os efeitos desses movimentos tectônicos responderam por rifteamento, ou seja, processo endógeno no qual dois patamares são soerguidos e um vale de rebaixamento é originado. Ademais, a esse processo foram conjugados efeitos de denudação, ou seja, erosão regional dos patamares mais elevados, que acabaram por aplainar os morros e serranias regionais e foram depositadas no nível de base da região, no caso o vale do Rio Tocantins (DIAS, 2008).

O diferencial entre o município de Imperatriz e o de João Lisboa em termos de Geomorfologia é que este último, além de compor a Superfície Maranhense com Testemunhos (com um desnível altimétrico mais pronunciado que o de Imperatriz), também apresenta sub-compartimentos de relevo diferenciados, como as veredas, que são típicas áreas de afloramentos de águas subterrâneas a partir de diacláses ou falhamentos há muito tempo inativos, inferidos por métodos geofísicos. Assim, as veredas correspondem a áreas levemente planas, que têm a elas conjugadas formações vegetais peculiares, como os buritizais.

Luiz Jorge Dias
Geógrafo - MSc. Sustentabilidade de Ecossistemas
Prof. Geografia Fìsica - UEMA\CESI\DHG

[1] M.A. = milhões de anos antes do presente.
[2] A.P. = anos antes do presente.

Trabalhos de Campo e Geografia

O trabalho de campo é um dos procedimentos metodológicos indispensáveis ao trabalho do profissional em Geografia. Seu desenvolvimento deve estar sempre condicionado a qualquer disciplina do campo formativo do docente e/ou pesquisador desde seu ingresso em curso de graduação. As exigências metodológicas de cada trabalho extra-sala de aula devem ser adequadas aos seguintes elementos:

a) espaço a ser pesquisado, objetivando entender a compartimentação e caracterização das feições paisagísticas físicas, ecológicas e humanas materializadas em uma certa área;
b) tempo da pesquisa, que representa o intervalo (horas, dias, semanas, meses ou anos) em que a pesquisa é desenvolvida.

Vale ressaltar que as condicionantes espaciais e temporais é que irão determinar quais serão os equipamentos e procedimentos adequados a serem aplicados caso a caso. Por exemplo, não se pode estudar em Climatologia as dinâmicas de precipitação anual de um município em apenas uma prática de campo de três ou quatro horas. Da mesma forma, não se pode “importar” deliberadamente informações sobre um determinado tipo de solo que ocorre em áreas temperadas (espaço diferenciado do Brasil) e aplicá-las no contexto regional de parte dos Domínios das Terras Baixas Florestadas Amazônicos (Domínio Amazônico).

Assim, numa aula de campo, que é uma das modalidades de “trabalhos de campo” que irá durar apenas algumas horas, é necessário que tanto o(s) docente(s) envolvido(s), quanto os alunos participantes, devem ter em mente informações indispensáveis à compreensão do espaço total regional. Em que pesem as disciplinas da Geografia da Natureza (ou Física, como preferem boa parte dos estudiosos dessa Ciência), é fundamental que os componentes geológicos, geomorfológicos, pedológicos e climáticos se superponham à análise das coberturas vegetais e processos de uso e ocupação das áreas disponíveis pelo homem.


Luiz Jorge Dias
Geógrafo - MSc. Sustentabilidade de Ecossistemas
Prof. Geografia Fìsica - UEMA\CESI\DHG