quarta-feira, 22 de abril de 2009

UTILIZAÇÃO DOS RECURSOS AMBIENTAIS EM ÁREAS COSTEIRAS: A pesca como atividade econômica


Prof. Luiz Jorge B. Dias
Geógrafo - MSc. Sustentabilidade de Ecossistemas
Professor de Geografia Física - UEMA\CESI\DHG



A acepção clássica do termo estuário é uma área onde existe mistura de águas doce e salgada. Segundo Pritchard (1967 apud SILVA et. al., 2004, p. 2001), “[...] estuários são corpos d’água costeiros, semi-confinados, onde ocorre a mistura de água doce, vinda do continente, e água salgada do oceano [...]”.

Essa “zona de mistura” proporciona com que a junção de fatores continentais e marinhos se associem e originem um tipo de paisagem único, com ecossistemas extraordinários, que têm curta duração no tempo geológico, algo em torno de, no máximo,
10.000 anos, pois tanto a paisagem, quanto os ecossistemas, estão condicionados a se expandirem continente adentro, ou se confinarem pela plataforma continental, pelas variações do nível do mar numa escala geológica não muito bem definida.

Ante o exposto, afirma-se que a dinâmica dos ambientes costeiros e dos ecossistemas a eles associados varia significativamente ao longo do tempo e do espaço. Uma vez que o espaço costeiro é largamente variável, uma vez que as influências atmosféricas, oceanográficas e continentais são mais marcantes, há que se ater às análises científicas que vislumbrem conhecer os sistemas ambientais envolvidos para que se possa elaborar cenários múltiplos de desenvolvimento ou retração de ecossistemas, face as flutuações climáticas e eustáticas que ainda são desenvolvidas, em termos geológicos e geofísicos, em todo o Planeta.

Sua forma de “trombeta”, formando por muitas vezes grandes enseadas e baías, ou seja, reentrâncias, proporciona com que haja disponibilidade espacial para o atracamento de embarcações de pequeno a grande porte, dependendo do espaço disponível e da profundidade do canal estuarino. Ante o exposto, são áreas susceptíveis à atividade portuária pelo fato de serem mais abrigadas das tempestades e mesmo das ondas, que frontalmente teriam maior potencial destrutivo.

Aos estuários se associam espécies das mais diversas formas e taxonomias, de reinos diferenciados, de forma microscópica (fito e zooplânctons) à macroscópica, como peixes, cetáceos (golfinhos, botos e baleias), sirênios (peixes-boi) e quelônios (tartarugas). Elas formam ecossistemas bem estratificados, onde a salinidade é um fator especial para o desenvolvimento da vida nas bordas da costa.

As relações físicas e físico-químicas ou biológicas se estabelecem e passam a ser características das células paisagísticas, como aquelas da zona costeira, onde as dinâmicas de desenvolvimento de trocas inter-relacionais entre as diversas populações formadoras da biota local/regional, que também são aproveitadas como subsídio para o desenvolvimento de atividades socioeconômicas e culturais humanas.

Culturalmente, em função dos recursos disponíveis, o homem ao se instalar em áreas adjacentes a estuários ou em seus ecossistemas associados, produz um diferenciado desgaste dos recursos ambientais disponíveis, em que se destacam a pesca, a extração de mariscos e o extrativismo vegetal em domínio de manguezais.

A pesca, que hoje é uma atividade que não mais visa a subsistência de grupos isolados de pessoas, atingiu o nível comercial, que está condicionada ao capital. Precisa-se sempre pescar cada vez mais para que se possa viver com um mínimo de conforto e de dignidade. Isso faz com que uma cadeia “produtiva” se instale em comunidades de pescadores tradicionais, em que a figura do atravessador se destaca e que geralmente subestima o preço do pescado em detrimento do pescador. E isso o estimula a ter uma consciência reversa frente ao seu produto, uma vez que é considerado de “pouco valia”. Solução: pescar mais e buscar outras alternativas de sobrevivência nas proximidades de sua área de produção e de vivência.

Destaca-se que essa forçante econômica leva a se extrair o pescado cada vez mais jovem, ou seja, cada vez menor. Isso vai, aos poucos, romper o ciclo vital da espécie e impedindo a sua reprodução natural, o que pode concorrer para a sua extinção em certos locais. A esse fator se agrega a degradação dos manguezais, que são verdadeiros “berçários” de espécies estuarinas (em sentido restrito) e costeiras (em sentido amplo). A devastação daquele ecossistema quebra nichos ecológicos e proporciona com que ocorram modificações biogeográficas, paisagísticas, espaciais e socioeconômicas significativas e irreversíveis.

A COMPREENSÃO DO MODELADO TERRESTRE: alguns argumentos conceituais

Prof. Luiz Jorge B. Dias
Geógrafo - MSc. Sustentabilidade de Ecossistemas
Professor de Geografia Física - UEMA\CESI\DHG


Segundo Santos (1999, p. 83), a paisagem é a “porção da configuração territorial que se pode abarcar com a visão”. Em outros termos, é tudo que se pode ver, ou seja, é um cenário, um resumo da realidade, sem o qual não se podem desenvolver análises mais detalhadas sobre um dado território, um certo espaço. Ab’Sáber, (2003, p. 09) a considera como uma herança em todos os sentidos (físicos, biológicos e humanos).

Portanto, a paisagem é uma junção de objetos (rios, mar, formas de vegetação, relevo, ocupações humanas, dentre outros elementos) sobre os quais são atribuídos valores de uso e/ou troca, correspondendo a uma potencial forma de se adquirir, mesmo que apenas de forma visual, uma parcela do território, ajudando a configurar o espaço. Em se tratando deste último conceito (território), Ab’Sáber (2004a, 98) atribui uma concepção mais abrangente ao retratá-lo enquanto espaço total, ou seja, uma unidade analítica que melhor abarcaria as formas de se conceber os processos ocorridos ou ocorrentes em determinada porção areal. Em suas palavras, "[...] há algum tempo, porém, o vocábulo (espaço total) tem sido utilizado para um fragmento do território regional que pode ser visto no contexto do presente, como resultado de uma longa elaboração histórica. (...) Todo espaço regional é fruto de uma história geológica, geomorfológica, pedológica e hidrológica, modificada por sucessivas formas de atividades antrópicas; às vezes bastante perturbadoras [...]".

Sobre tais considerações, Ab’Sáber (2003) correlaciona os domínios geológico-geomorfológicos àqueles de caráter fitogeográficos, onde se configura a análise das paisagens brasileiras em função da compreensão dos seguintes elementos: relevo, vegetação, hidrografia, solos e climas. Isso tudo, em concatenação, deriva uma melhor explicação do espaço enquanto uma totalidade, em função de planejamentos e potenciais formas de uso e aproveitamento dos recursos disponíveis à sociedade, de forma equilibrada, promovendo um desenvolvimento socioambiental. Ademais, é este o caráter analítico em termos de geomorfologia ambiental, que abarca tanto os caracteres físicos, quanto biológicos e humanos existentes na superfície da Terra.

A configuração geomorfológica é uma das parcelas mais notáveis do espaço total, devendo ser compreendida em função, ao primeiro momento, de sua esculturação e estruturação litológicas e estratigráficas (conforme os ambientes geológicos de onde se encontram – e se assentam – tais formações); e em um segundo momento, de suas porções superficiais, representadas pelas variações pedológicas, estratos botânicos (cobertura vegetal), condicionantes (elementos) de tempo e clima, hidrografia e distribuição de vertentes e seus respectivos canais de escoamento de fluxos e áreas de estocagem hídrica, além da antropogênese, ou seja, dos elementos homem/sociedades enquanto agentes de modelagem e de transformação do meio em função de tecnologias viáveis para a apropriação (ou criação) de novos espaços, a fim de se estabelecer novos elementos a serem enquadrados em índices econômicos (valores) de uso e troca de terra ou solo.

Ross (2003, p. 26-27) ressalta que os conceitos que melhor fazem compreender o modelado terrestre são os de morfoestrutura e morfoescultura, os quais foram propostos por Mescherikov e Gerasimov, na Rússia (entre as décadas de 1940 e 1970). O primeiro conceito diz respeito à estrutura mórfica e geológica do terreno, geralmente referenciando-se a embasamentos estruturais (cristalinos e/ou sedimentares). Ademais, segundo a mesma referência, as plataformas (regiões cratônicas), as cadeias orogenéticas (sejam os maciços antigos ou modernos) e as bacias sedimentares (ou seja, áreas de diferentes idades e composições litoestratigráficas) são classificados como exemplos bem práticos de tais domínios geológicos. Ou seja, é impossível se analisar o relevo sem que haja uma inter-relação entre os fatos geomorfológicos e as ações geológicas e climáticas nele atuantes.

Ross (2001, p. 33-35) considera, ainda, este elemento analítico e seus respectivos domínios pela denominação de “macroformas estruturais”, que condiz com a sua classificação, suas formas e disposições, o que entra em consonância com as propostas de Ab’Sáber (2001), ao retratar a necessidade de se conceber estudos integrados de megageomorfologia, ou seja, reconhecer integralmente os caracteres intrínsecos do modelado terrestre em determinadas porções territoriais, sejam elas de pequenas, médias ou grandes extensões territoriais. No entanto, ao passo que se conhece tais fatos em escalas mais contingentes, necessário se fazem desenvolvimentos de estudos sobre as realidades regionais (mesoescalares), haja vista o caso da Baixada Maranhense, uma célula espacial que abrange quase 10% do território estadual.

As macroformas estruturais se relacionam, pois, ao aspecto escultural do relevo, ou seja, à “disposição” que determinada região (ou província geológica, em função de suas formações e configurações litológicas) tem de se modelar conforme os domínios climáticos locais ou regionais, gerando formas diferenciadas, em diferentes áreas de cobertura climática, isto, obviamente, através do tempo geológico. O conceito de domínios morfoclimáticos dá ênfase maior a tal concepção analítica, a morfoescultura, já que este trabalha a ação do clima sobre o relevo, seu processo de desgaste, intemperização, erosão e deposição sedimentar. Em outros termos, "[...] o conceito de morfoescultura volta-se, portanto, às feições do relevo produzidas ma terra pela ação dos climas atuais e pretéritos e que deixam marcas na superfície do terreno, específicas de cada processo dominante. (...) Isso significa que sobre uma determinada morfoestrutura pode-se encontrar uma ou mais unidades morfoesculturais, ou, ao contrário, em duas ou mais unidades morfoestruturais pode-se encontrar apenas uma unidade morfoescultural [...]" (ROSS, 2003, p. 40).

O processo de morfodinâmica (dinâmica do modelado geomorfológico) de paisagens em função de denudações de terrenos e seus conseqüentes processos de morfogênese (origem das formas) e pedogênese (origem de tipos diferenciados de solos) tendem a ser mais significativos em regiões intertropicais, principalmente úmidas e superúmidas; no entanto, há de se ressaltar que, para efeitos de uma abordagem compreensiva e integral sobre o modelado em domínios climáticos diferenciados, deve-se concatenar tanto elementos de ordem morfoesculturais, quanto morfoestruturais.

Davis (1991) explica a configuração morfogenética do relevo terrestre em regiões de clima úmido através de uma análise do desenvolvimento de uma morfogênese diferencial, válida, indubitavelmente, em domínios geológicos sedimentares, mas refutável em se tratando de áreas que compreendem relevo de maciços cristalinos antigos (ao menos na variação temporal prevista pelo citado autor: 200 M.A – milhões de anos). Esta abordagem seguramente pode conduzir a concepções acerca do desenvolvimento de redes fluviais, em função de ajustamentos litológicos, entalhando morfologicamente frações diferenciadas do substrato geológico-geomorfológico.

Ademais, há, com isto, um ajustamento de vales, acompanhado de um recuo de cabeceiras de drenagem, em função de um ciclo erosivo remontante e contingente, que pode conformar, ainda, modelados de vertentes heterogêneos. Isto tudo se baseia em um aparato climático embasando as formações geomorfológicas. A isto Davis (1991) se referenciava como ciclo geográfico. Christofoletti (1980) explana este conceito na tentativa de mostrar como se deve compreender as teorias de cunho geomorfológico. Seguindo a mesma linha de raciocínio, De Martonne (1991) segue a vertente da geomorfologia climática proposta por Davis e desenvolve ainda mais as formas como o clima modela a paisagem e interfere nos domínios vegetais. Ademais, tal autor considera o “clima como fator do relevo”.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

A IMPORTÂNCIA DA ETNOBIOLOGIA PARA O CONHECIMENTO DOS PROCESSOS DE PRODUÇÃO E DO DESENVOLVIMENTO DAS RELAÇÕES COTIDIANAS DE ANAJATUBA (MA)

Prof. Luiz Jorge B. Dias
Geógrafo - MSc. Sustentabilidade de Ecossistemas
Professor de Geografia Física - UEMA\CESI\DHG




Atualmente, em termos acadêmicos, têm-se voltado bastante a ótica analítica de aspectos sociais para a tônica do desenvolvimento das relações produtivas humanas atreladas a um modus operandi e a um modus vivendi, onde, neste contexto, se encaixam comunidades tradicionais, que, para sua sobrevivência e manutenção, sempre utilizaram dos recursos ambientais disponíveis de forma tantas vezes predatória, o que aporta na insustentabilidade das mesmas em certas profundidades de tempo (escalas). No entanto, este ato de aproveitar de tais meios de existência faz com que haja uma marca de grupos sociais nos ambientes ocupados/utilizados.

Perante o referido argumento, contextualiza-se a necessidade metodológico-prática de se ater ao estudo das relações pautadas entre o homem (subentenda-se sociedade) e os recursos ambientais disponíveis na Baixada Maranhense, sendo estes de caráter tanto abiótico, como, em especial, relativos à diversidade biológica disponível. Ademais, concentram-se as análises em um contexto voltado para a tríade natureza, produção (trabalho) e cultura, aproximando suas abordagens dos quesitos analisados/discutidos em termos de Antropologia e Ecologia Humana, as quais se caracterizam como disciplinas auxiliares a esta que é ressaltada neste texto, o que se faz enaltecer com os esclarecimentos trazidos pela Geomorfologia Antropogenética (DIAS, 2004; DIAS; FERREIRA, 2004).

Esta, por seu turno, indica e analisa como o homem, impregnado dos valores e recursos tecnológicos que a sociedade em que está inserido lhe proporciona, pode ser um agente modelador do relevo e, portanto, de transformação de paisagens, com a finalidade de se construir (ou reproduzir) espaços pelo seu trabalho, alterando dinâmicas naturais do modelado das formas, materiais e processos do estrato ambiental, “desviando”, ou melhor, desvirtuando, os sistemas naturais em função de suas necessidades. Quanto maiores forem em termos escalares as intervenções humanas sobre um dado local, maiores serão os efeitos produzidos.

No caso específico da Baixada Maranhense, observa-se o fato de que há uma certa propensão de uso e ocupação do solo, ou seja, de reprodução do fato urbano, em áreas de tesos não inundáveis, uma vez que os mesmos favorecem a aplicação de menores gastos e recursos. Ao contrário, as zonas rurais se localizam em domínio paisagístico de planícies de inundação, as quais são remodeladas sazonalmente pelos regimes de cheia e vazante.

Ademais, os ambientes geomorfológicos têm respostas distintas às alterações socialmente impostas, o que implica em maiores possibilidades de desenvolvimento de danos ambientais. Seguindo tal veio de raciocínio, a Geomorfologia Antropogenética se faz tão importante pelo fato central de compreender esforços explicativos tanto dos estudos da “Geografia Física”, quanto da “Geografia Humana” da região da Baixada Maranhense.

Outrossim, se ressalta a importância analítica de se destacar analiticamente a compreensão da dinamicidade intrínseca aos fatos urbanos ou intra-urbanos, com possibilidade de mapeamentos com riqueza de detalhes das potencialidades do solo e suas formas atuais (ou mesmo evolutivas, processuais) de uso e ocupação, proporcionando um melhor conhecimento estrutural e escultural do ambiente físico sobre o qual se assenta o fato urbano para que se possa vir a melhor embasar as formas de se poder corretamente verificar as problemáticas ambientais inseridas no espaço, tendo a proposta de planejamento territorial integral da região da Baixada Maranhense. Da mesma forma, convém, enquanto proposta factível, exercer caráter metodológico similar face às áreas rurais, uma vez que são tais espaços tão carentes de mapeamentos quanto são as áreas urbanas.

Ao se destacar as relações de produção humana da Baixada Maranhense, mesmo que no sentido de subsistência, e sobrepor a este fato socioeconômico modelos ou padrões de vida sociais e/ou culturais, somados à disponibilidade de recursos ambientais, tem-se a possibilidade de se notificar como o homem interfere em ecossistemas bem definidos (em termos de história evolutiva) e até que ponto, segundo as técnicas utilizadas para realizar tal propósito, podem tais atividades ser equilibradas (sustentáveis) ou passíveis de proporcionar a exaustão dos subsídios ambientais à existência de grupos sociais. Exemplos bem marcantes estão centrados nos quesitos de inserção de espécies exógenas nos diversos ambientes da região, citando-se o búfalo e o camarão gigante da Malásia, que destroem a cadeia alimentar local, proporcionam extinções pontuais e migrações sucessivas de espécies nativas, o que implica em mudanças de hábitos, ou de modus vivendi, humanos.

Ante o exposto, verifica-se que há uma consonância de tal processo com os ciclos produtivos socioeconômicos da Baixada Maranhense, associados à sua dinâmica histórica de ocupação e à diversidade ambiental (destacando-se a biodiversidade) que configura tal espaço total regional. A inserção de técnicas de manejo de solo, bem como os principais produtos cultivados, associados ao conhecimento de mundo das populações tradicionais, analisados cientificamente, podem encaminhar a uma compreensão mais próxima do fato real.

Ademais, tal contexto tanto pode ser abarcado para aquela região, quanto para seus “fragmentos territoriais”, como são os casos das unidades municipais que têm autonomia para diagnosticar as dinâmicas físicas e ecológicas de seus espaços, isto, logicamente, atrelado a uma compreensão da diversidade histórica de uso e ocupação do solo disponível e seus manejos tradicionais (relativos ao cultivo do algodão e de culturas de subsistência, como o arroz, o milho e a mandioca, além da construção dos fatos urbanos locais), associados à prática extrativista (animal, vegetal e mineral), destacando os componentes étnico-culturais bastante presentes na Baixada Maranhense, os quais devem ser abarcados numa abordagem que vislumbre o conhecimento das relações humanas de produção espacial daquela realidade regional.

Ante tal perspectiva, faz-se necessária a análise do espaço em questão à luz do reconhecimento dos quesitos de práxis social das comunidades locais, sendo tal componente relacionada com aqueles de caráter ambiental. Para tal, condiciona-se a pesquisa da realidade etnobiológica de Anajatuba aos passos metodológicos propostos por Pinheiro (s/d) e adaptadas para o presente contexto analítico:

1) descrição dos ecossistemas locais/regionais (ou da realidade do seu estrato ambiental);

2) decodificação do corpus do produtor, em que se enaltece o conteúdo humano de modificação da estrutura superficial das paisagens locais, tendo em vista

3) a apropriação dos espaços, em virtude das necessidades da socioeconomia necessária à sustentação e/ou subsistência dos grupos sociais locais, diferenciando as formas de apropriação dos espaços, tanto em termos de cidade, quanto de campo (zonas urbana e rural), avaliando os impactos gerados por tais processos de utilização de recursos;

Ademais, se enaltece o valor do mapeamento de unidades de paisagem e do uso e ocupação do solo no município, auxiliado por técnicas de sensoriamento remoto e de computação gráfica. Com isto, espera-se alcançar a compreensão de como os grupos sociais da Baixada Maranhense interferem nos ambientes contidos em seu território, tendo em vista a proposta de se compreender se há impactos significativos das atividades humanas nos ecossistemas do município (verificando se há ou não sustentabilidade dos mesmos), bem como visualizar a possibilidade de formalização e implantação de políticas públicas que normalizem do uso e ocupação do espaço, tanto em termos de zona urbana, quanto a rural.

BACIAS SEDIMENTARES E GEOMORFOLOGIA: REFLEXÕES BÁSICAS

1. INTRODUÇÃO
Prof. Luiz Jorge B. Dias
Geógrafo - MSc. Sustentabilidade de Ecossistemas
Professor de Geografia Física - UEMA\CESI\DHG


A configuração geomorfológica de uma região é uma das parcelas mais notáveis do elemento paisagem e deve ser compreendida, num primeiro momento, em função de sua estruturação litológica e estratigráfica (geologia). Em um segundo momento, necessita-se analisar a estrutura superficial da paisagem, representadas pelos solos, cobertura vegetal, clima, hidrografia e ações humanas. À superposição destes elementos denomina-se de domínio de paisagem, desenvolvidos segundo uma história geológica (compreendendo fatos locais, regionais e globais) e outra social, as quais devem ser elencadas em função de planejamentos regionais de caráter integral.

Ross (2003, p. 26-27) ressalta que os conceitos que melhor fazem compreender o modelado terrestre, ou os fatos geomorfológicos, são os de morfoestrutura e morfoescultura, os quais foram propostos por Mescherikov e Gerasimov, na Rússia (entre as décadas de 1940 e 1970). O primeiro conceito diz respeito à estrutura mórfica e geológica do terreno, geralmente referenciando-se a embasamentos estruturais (cristalinos e/ou sedimentares). Ademais, segundo a mesma referência, as plataformas (regiões cratônicas), as cadeias orogenéticas (sejam os maciços antigos ou modernos) e as bacias sedimentares (ou seja, áreas de diferentes idades e composições litoestratigráficas) são classificados como exemplos bem práticos de tais domínios geológicos. Ou seja, é impossível se analisar o relevo sem que haja uma inter-relação entre os fatos geomorfológicos e as ações geológicas e climáticas nele atuantes.

Outrossim, Ross (2001, p. 33-35) considera esse elemento analítico e seus respectivos domínios pela denominação de “macroformas estruturais”, que condiz com a sua classificação, suas formas e disposições, o que entra em consonância com as propostas de Ab’Sáber (2001), ao retratar a necessidade de se conceber estudos integrados de megageomorfologia, ou seja, reconhecer integralmente os caracteres intrínsecos do modelado terrestre em determinadas porções territoriais, sejam elas de pequenas, médias ou grandes extensões territoriais.

Embora haja uma diversidade de propostas analíticas expostas nos parágrafos precedentes, o presente trabalho se preocupará em desenvolver concepções acerca das bacias sedimentares, que são domínios geológico-geomorfológicos que sofrem mais significativamente com os eventos de remodelagem sucessivas de sua modelagem superficial, haja vista sua constituição litológica e petrogenética são mais susceptíveis a retrabalhamentos da e sobre a estrutura superficial da paisagem (AB’SÁBER, 1971). Este trabalho ateve-se às pesquisas bibliográficas, uma vez que ele é de caráter explicativo-conceitual do que de fato são as bacias sedimentares.


2. MATERIAL E MÉTODOS

Nesta pesquisa foi utilizado diversas orientações bibliográficas, de autores da área, apresentação de seminário sobre a morfoestrutura das Bacias Sedimentares e aulas expositivas, que muito colaborou na organização deste.


3.RESULTADOS E DISCURSÕES

Segundo Guerra e Guerra (2003, p. 77), bacia sedimentar é uma “[...] depressão enchida com detritos carregados das áreas adjacentes [...]”. Embora seja este um conceito estabelecido como um consenso no meio acadêmico, convém aqui ressaltar a sua superficialidade técnica e temática.

De fato, tal configuração geológica é uma área deprimida, tamponada com sedimentos provenientes de áreas-fonte diferenciadas. No entanto, deve-se considerar que toda e qualquer depressão existente na porção superficial da crosta terrestre pode ser considerada geologicamente como uma bacia, sendo passível de tamponamento por clastos oriundos de espaços mais elevados, próximos ou não da área de deposição.

Em outros termos, a bacia é um lugar de deposição por ser o nivelamento de base de uma região. E é justamente neste quesito que se deve nortear melhor o conceito de bacia sedimentar, uma vez que ele não é circunscrito a um conceito generalista, mas tal morfoestrutura é abrangente, tanto no que tange à sua escala temporal (já que ela é formada pela deposição continuada de sedimentos ao longo das eras, períodos e épocas geológicas), quanto no que diz respeito às suas dimensões espaciais (haja vista abranger grandes áreas).

A gênese das bacias sedimentares é relacionada a eventos tectônicos de abatimento da superfície terrestre, criando áreas rebaixadas (geossinclinais) que sofrerão a posteriori efeitos da subsidência de sedimentos carreados do continente para áreas marginais, que, com a ação conjunta de forçantes físicas, como pressão, temperatura e reagrupamento de minerais, litificam, ou seja, enrijecem os sedimentos, que são naturalmente selecionados, segundo a sua granulometria. Daí surgem as rochas sedimentares, que necessitam de milhões de anos para de fato se constituírem.

Na verdade, as bacias sedimentares são grandes “pacotes” rochosos, onde suas principais colunas estratigráficas são dominadas por arenitos, siltitos, argilitos, folhelhos, conglomerados; além de rochas formadas pela deposição de agrupamentos de seres vivos, como são os casos dos fósseis, do carvão vegetal e do petróleo.

Convém mencionar que a partir da disposição de uma coluna litoestratigráfica em qualquer que seja a bacia sedimentar, consegue-se inferir como eram os ambientes daquele lugar nos tempos anteriores ao atual. Movimentos do nível do mar, glaciações, estabelecimento de estuários, deltas, plataforma continental (interna e/ou externa), praias, áreas de manguezais, ambientes fluviais e/ou lacustres, dentre outros (MENDES, 1984). Ainda se consideram os fósseis como testemunhos evolutivos da distribuição dos organismos ao longo da superfície terrestre.

As formas de relevo, ou fatos geomorfológicos, são produtos das interações existentes entre os fatores estruturais (internos ou endógenos) e esculturais (externos ou exógenos) As macroformas estruturais se relacionam, pois, ao aspecto escultural do relevo, ou seja, à “disposição” que determinada região (ou província geológica, em função de suas formações e configurações litológicas) tem de se modelar conforme os domínios climáticos locais ou regionais, gerando formas diferenciadas, em diferentes áreas de cobertura climática, isto, obviamente, através do tempo geológico (PENTEADO, 1983).

O conceito de domínios morfoclimáticos dá ênfase maior a tal concepção analítica, a morfoescultura, já que este trabalha a ação do clima sobre o relevo, seu processo de desgaste, intemperização, erosão e deposição sedimentar. Em outros termos, "[...] O conceito de morfoescultura volta-se, portanto, às feições do relevo produzidas ma terra pela ação dos climas atuais e pretéritos e que deixam marcas na superfície do terreno, específicas de cada processo dominante. (...) Isso significa que sobre uma determinada morfoestrutura pode-se encontrar uma ou mais unidades morfoesculturais, ou, ao contrário, em duas ou mais unidades morfoestruturais pode-se encontrar apenas uma unidade morfoescultural [...]" (ROSS, 2003, p. 40).


As principais formas de relevo existentes em domínios de bacias sedimentares são: planícies flúvio-marinhas; planícies flúvio-lacustres; tabuleiros (chapadas) e cuestas (nas superfícies de contato de bacias com crátons), cada qual com suas especificidades, características e estruturas litoestratigráficas.


4. CONCLUSÃO

O processo de morfodinâmica (dinâmica do modelado geomorfológico) de paisagens em função de denudações de terrenos e seus conseqüentes processos de morfogênese (origem das formas) e pedogênese (origem de tipos diferenciados de solos) tendem a ser mais significativos em regiões intertropicais, principalmente úmidas e superúmidas; no entanto, há de se ressaltar que, para efeitos de uma abordagem compreensiva e integral sobre o modelado em domínios climáticos diferenciados, deve-se concatenar tanto elementos de ordem morfoesculturais, quanto morfoestruturais.


REFERÊNCIAS

______. Organização natural das paisagens inter e subtropicais brasileiras. In: FERRI, Mário Guimarães (org.). III Simpósio sobre o cerrado. São Paulo: Edgard Blücher / EDUSP, 1971. p. 1-14.

______. Megageomorfologia do território brasileiro. In: CUNHA, Sandra Baptista da; GUERRA, Antonio José Teixeira Guerra (org.). Geomorfologia do Brasil. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. p. 71-106.

GUERRA, Antonio Teixeira; GUERRA, Antonio José Teixeira. Novo dicionário geológico-geomorfológico. 3. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. 648 p. il.

MENDES, Josué Camargo. Elementos de estratigrafia. São Paulo: T.A. Queiroz, 1984. 566 p.

PENTEADO, Margarida Maria. Fundamentos de geomorfologia. 3. ed. Rio de Janeiro: Fundação IBGE, 1983. 185 p.

ROSS, Jurandyr Luciano Sanches. Fundamentos da geografia da natureza. In: _______(org.). Geografia do Brasil. 4. ed. São Paulo: EDUSP, 2001. p. 15-65.

______. Geomorfologia: ambiente e planejamento. 7. ed. São Paulo: Contexto, 2003. 85 p.