sábado, 26 de dezembro de 2009

SÍNTESE DA EVOLUÇÃO GEOAMBIENTAL DA ILHA DO MARANHÃO

Prof. MSc. Luiz Jorge B. Dias
Geógrafo - Mestre em Sustentabilidade de Ecossistemas
Prof. Auxiliar I de Geografia Física - UEMA\CESI\DHG
A Ilha do Maranhão se localiza numa feição geológico-geomorfológica denominada de Golfão Maranhense, sendo esta uma articulação regional da costa brasileira caracterizada por ser um grande e complexo sistema estuarino, destacando-se as baías de São Marcos e São José (a Oeste e Leste da Ilha, respectivamente). Assenta-se a Ilha e toda esta feição citada sobre a Bacia Costeira de São Luís, tendo como principais unidades estratigráficas as Formações Itapecuru (de idade Cretácea), Barreiras (datada do Terciário) e Açuí (configurando terrenos recentes).
A Geologia e a Geomorfologia da Ilha têm seu início com a configuração da faixa (ou zona) costeira brasileira, dados os esforços tectônicos na então Gondwana, que a fragmentaram em diversas porções continentais, dentre as quais a América do Sul e a África. Este evento data de aproximadamente 140 M.A. (milhões de anos), ou seja, no período Cretáceo Inferior. A Bacia Costeira de São Luís se individualiza da Bacia do Parnaíba ou Maranhão e da Bacia Costeira de Barreirinhas por altos estruturais, sendo eles o Arco Férrer-Urbano Santos e o Horst de Rosário.
Desse período, apresenta-se como paleoambiente de configuração a Formação Itapecuru, possuindo características de mares rasos (ou mesmo pela presença de sedimentos costeiros não-marinhos) e de ambientes estuarinos (PETRI; FÚLFARO, 1983, p. 286), haja vista a grande concentração de sedimentos finos a muito finos, em justaposição aos sedimentos mais grosseiros (como areias que culminaram na origem dos arenitos desta feição estratigráfica); esta unidade é bastante espessa, sendo nitidamente visíveis em sopés das falésias do litoral da Ilha do Maranhão, como naquelas presentes nas praias da Guia, São Marcos, Olho d’Água, Meio e Araçagi (na Baía de São Marcos); e Panaquatira, Ponta Vermelha, Caúra e Juçatuba (na Baía de São José), conforme identificações feitas durante expedições de campo.

Durante o Cenozóico, especificamente no período Terciário, após um ciclo erosivo de grande intensividade da formação precedente, houve a conformação da Formação Barreiras, justamente entre os períodos Mioceno e Plioceno. Esta formação é de fundamental importância para toda a compreensão analítica dos intervalos lito-estratigráficos a se configurarem a partir deste período de sedimentação, já que é responsável pela configuração geológico-geomorfológica que “forma falésias na costa e bancos nas margens dos rios costeiros” (PETRI; FÚLFARO,1983, p. 413). Constata-se, pois, que grande parte das áreas ocupadas, destinadas à habitação e a outros tipos de uso, da Ilha do Maranhão se assenta imediatamente sobre esta denominação geológica.
Ademais, “[...] os sedimentos Barreiras foram depositados em condições predominantemente fluviais (...), associados a planícies de inundação [...]” (PETRI; FÚLFARO, 1983, p. 441), mas que, segundo Costa et al. (1993 apud SUGUIO, 2001, p. 297-298), se configurou também a deposição de tais sedimentos em ambiente sub-litorâneo raso, ou seja, em ambientes de plataforma continental interna. É desse “pacote sedimentar” que se extraem argila e concreções ferruginosas para a construção civil; os principais pontos de extração estão situados nos povoados de Cajupe, Maracanã e Vila Maranhão (no município de São Luís) e Santana (São José de Ribamar).

Convém, ainda, mencionar que os sedimentos Barreiras são aqueles mais propensos aos diversos tipos de intemperismo e erosão em toda a Ilha, dadas suas características litológicas de rochas mal selecionadas e mal consolidadas, sendo factualmente perceptíveis pela presença das voçorocas existentes nos sopés das falésias do Farol de São Marcos, na praia do Araçagi, em Panaquatira (em processo de desenvolvimento), no Povoado de Santana e no Parque do Bacanga, apenas para serem citados alguns exemplos.

Para se falar em Quaternário, convém mencionar que se trata do segundo período geológico da Era Cenozóica, tendo início há mais ou menos 1,5 M.A. (Milhão – ou milhões – de Anos), conforme afirmam Dias (2004) e Dias e Ferreira (2004, p. 206). Tal fase histórico-geológica está subdivida em duas épocas: o Pleistoceno, que varia de mais ou menos 1,5 M.A. a algo em torno de 12.700 A.P (lê-se: doze mil e setecentos anos antes do presente), em se pontua o começo do Holoceno, que se desenvolve até os dias atuais.

As variações climáticas e morfológicas quaternárias têm origem, em especial, nos fenômenos glaciares globais ocorridos durante este “breve” tempo geológico. Em se tratando de aspectos morfológicos, o que Penteado (1983), Christofoletti (1980, p. 142-146) e Ab’Sáber (2003a, p. 45) afirmam é que ocorreram flutuações significativas do nível do mar, a partir do início do Pleistoceno Superior, caracterizando processos eustáticos ora transgressivos, ora regressivos, indicando diferenciações em dinâmicas de intemperismo, erosão e sedimentação (agradação ou retrogradação) da costa, do litoral (in stricto sensu) e mesmo da própria plataforma continental.

Foi justamente no último significativo episódio transgressivo, iniciado a partir de 12.700 A.P. (antes do presente), conforme ressalta Ab’Sáber (2003a, 2003b e 2004a), que as condições climáticas regionais passaram por grandes variações e as florestas perenifólias amazônicas passaram a se expandir, tomando o lugar dos enclaves de cerrados e caatingas expandidos entre 23.000 e 12.700 A.P., migrando, inclusive para a porção continental que seria futuramente insulada (no último máximo transgressivo, há 5.500 A.P.), formando a Ilha do Maranhão. Este fato é confirmado pela presença de testemunhos daquela formação florestal no Parque Estadual do Bacanga, na Avenida Jerônimo de Albuquerque (entre os conjuntos habitacionais Cohama e Vinhais, na reserva particular La Belle Parq) e na Área de Proteção Ambiental (APA) do Itapiracó, para serem citados alguns exemplos.

Ademais, há que se aportar, ainda, ao contexto de que todas as paisagens litorâneas e costeiras observadas na Ilha do Maranhão datam do Quaternário Superior (Formação Açuí), sendo de idade holocênica, na qual se processaram variações consideravelmente abruptas de configuração geomorfológica, já que o nível dos mares no último episódio transgressivo se eleva de –100 metros (com relação ao nível de base atual) a + 3,5 metros (isto entre 12.700 e 5.500 anos A.P.), fato este que (re) configura as unidades paisagísticas regionais e individualização do Golfão Maranhense, caracterizando-o como um vasto e complexo sistema ambiental estuarino de notável hidrodinâmica regional, com amplitudes chegando a alcançar, em média, 6,0 metros (podendo, episodicamente, atingir os 7,2 metros).

Ademais, há o surgimento de faixas de restingas e campos de dunas (AB’SÁBER, 2004, p. 98), denotando em processos de agradação da linha de costa pelo acúmulo sedimentar, fato responsável, por exemplo, pela morfogênese da Ilha de Curupu, situada no município de Raposa (ao Norte da Ilha do Maranhão), além do surgimento da faixa de praias e de zonas de domínios de mangues (planícies litorâneas).

Ocorreu, ainda, o afogamento de vales dos cursos inferiores de rios nas proximidades de seus estuários e configuração da faixa litorânea da Ilha do Maranhão e do Golfão Maranhense (entre 5.500 anos e 2.500 anos A.P.), com suas principais feições morfológicas: igarapés; estuários; pontais rochosos; depósitos de tálus; acúmulo de rochas em declives abruptos e rochosos; falésias (pontos de grande altitude, em se tratando das médias do Golfão); planícies de marés lamosa e arenosa; praias; dunas; ambientes dominados por mangues, marismas e vegetação de restinga (em paleodunas); bancos e cordões arenosos; restingas; enseadas; baías; tabuleiros sedimentares e colinas dissecadas. Ante o exposto, pode-se verificar que houve uma alteração generalizada dos caracteres paisagísticos no decorrer do Holoceno, evidenciados no lócus pesquisado.

Concluindo, houve configurações heterogêneas de paisagens sobre o mesmo ambiente, uma vez que as variações de agentes morfoesculturantes no contexto, principalmente no que tange às escalas climáticas regionais e mesmo macrorregionais, em que se sobrepunham, durante o Quaternário Superior, climas ora semi-áridos (entre 23.000 e 12.700 A.P., inferindo-se a partir de dados conceituais presentes em AB’SÁBER, 1971 e 2003b), ora sub-úmidos (12.700 A.P. e 9.000 A.P.), ora úmidos (9.000 A.P. até os presentes dias), responsáveis por formações fitogeográficas de caatinga, cerrados e de ambientes florestais e palustres (ou pantanoso), respectivamente.

Foi durante o primeiro evento climático, o de domínio semi-árido, que se processou um intenso período de pedimentação1 (AB’SÁBER, 1971, 2003b), em especial da faixa costeira brasileira. Tal processo derivou superfícies colinosas tabulares, levemente onduladas, caracterizando os Terraços de Tabuleiros Centrais com Colinas Dissecadas (DIAS, 2004, p. 82; DIAS; FERREIRA, 2004, p. 198), o entalhamento de drenagens da rede hidrográfica da Ilha do Maranhão (outrora estendida pela atual plataforma continental, em período eustático regressivo), a configuração das encostas fluviais e dos terraços inferiores (correspondentes às planícies de inundação dos rios), bem como de superfícies de descontinuidades planialtimétrica, que culminam nos pontos mais altos das falésias, que futuramente serviriam de substrato litológico e estrutural para o assentamento das superfícies de acumulação marinha holocênicas, caracterizadas pelas planícies de maré ou, biologicamente, as zonas intertidais (praias e vasas de manguezais ou pântanos salinos).

REFERÊNCIAS

AB’SÁBER, Aziz Nacib. Organização natural das paisagens inter e subtropicais brasileiras. In: FERRI, Mário G. III Simpósio sobre o cerrado. São Paulo: Edgard Blücher / EDUSP, 1971. p. 1-14.
______. Suntuosidade e complexidade do litoral brasileiro. Scientific American, Ano 01, Nº. 12. São Paulo: Duetto Editora, mai. 2003. p. 42-45.

______. Os domínios de natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003. 159 p.

______. Campos de dunas brasileiros. Scientific American, Ano 02, Nº. 22. São Paulo: Duetto Editora, mar. 2004. p. 98.
DIAS, Luiz Jorge B.. Cidade Operária e área de entorno imediato: dinâmicas espacial e socioambiental. 2004. 112 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Geografia Bacharelado). Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2004.
DIAS, Luiz Jorge Bezerra da Silva; FERREIRA, Antonio José de Araújo. Problemas ambientais na Cidade Operária e área de entorno imediato, São Luís – MA. Ciências Humanas em Revista. v. 2, n. 1, jan./jun. 2004. São Luís: Universidade Federal do Maranhão / Centro de Ciências Humanas. p. 193-208.
PENTEADO, Margarida Maria. Fundamentos de geomorfologia. 3ª. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 1983. 185 p.
PETRI, Setembrino; FÚLFARO, Vicente José. Geologia do Brasil (Fanerozóico). São Paulo: TA. Queiroz/EDUSP, 1983. 631 p.
SUGUIO, Kenitiro. Geologia do quaternário e mudanças ambientais: passado + presente = futuro?. São Paulo: Paulo’s Comunicações e Artes Gráficas, 2001. 366 p.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

LAGUNA DA JANSEN (SÃO LUÍS - MA) E POSSIBILIDADES DE COMPREENSÃO ESPACIAL

Prof. MSc. Luiz Jorge B. Dias
Geógrafo - Mestre em Sustentabilidade de Ecossistemas
Prof. Auxiliar I de Geografia Física - UEMA\CESI\DHG
Considera-se que o entendimento de toda e qualquer área da superfície da Terra depende, logicamente, de um reconhecimento integrado de elementos físicos (naturais), ecológicos (biológicos) e humanos (sociais), bem como de suas associações, que, em conjunto, configuram ambientes dotados de características peculiares de/para identificação. No caso específico da Laguna da Jansen, espaço situado na porção Noroeste da Ilha do Maranhão (popularmente denominada “Ilha de São Luís”), há uma série de fatos importantes que devem ser reconhecidos para melhor compreensão das inter-relações ambientais estabelecidas em seu espaço total.

A título de contextualização conceitual, laguna é um ambiente costeiro semi-fechado, que possui contato direto com o mar por um canal de dimensões reduzidas, em comparação à área de armazenamento das águas (bacia lagunar). Suas águas tendem a ser salobras ou salgadas, o que depende da disponibilidade de água doce que porventura possa entrar no sistema ambiental lagunar. Sua morfogênese está relacionada à conjugação de:
  • processos naturais de flutuações do nível do mar (avanços e recuos) no decorrer de séculos a poucos milênios, responsáveis pelo barramento de reentrâncias costeiras por restingas (cordões arenosos) que, por influências das ondas, marés e das águas provenientes dos terrenos mais elevados permitem a configuração de um canal de ligação entre o corpo hídrico em si (laguna) e o mar. Neste caso, a estrutura das comunidades bióticas (ou dos seres vivos) associadas aos elementos físicos é dotada de originalidades e de potencialidades paisagísticas ímpares, por serem heranças da dinâmica natural das paisagens, compondo, portanto, ecossistemas naturais intimamente interligados, mantenedores de bancos genéticos da fauna e flora associadas naturalmente ao ambiente. No Brasil, vários ambientes lagunares tiveram sua morfogênese relacionada a esse eventos naturais, em que pesem as lagunas do extremo Nordeste do Estado do Maranhão e os sistemas lagunares do Rio de Janeiro, por exemplo;
  • estratégias socioeconômicas de ocupação de novas áreas (outrora consideradas “insalubres”) pelo incremento dos processos de urbanização, que aconteceram nas proximidades da zona litorânea, responsáveis por uma série de barramentos artificiais, portanto induzidos, de ecossistemas de manguezais e de apicuns, atribuindo a essas paisagens (que eram ecossistemas naturais com estrutura e funcionalidade ecológicas pautadas em longos ciclos – de centenas a milhares de anos – de adaptação biogeográfica) novas características, ocasionadas pelas rupturas dos sistemas ambientais originais, induzidas pelas ações humanas. As obras de engenharia (infra-estruturas físicas) são capazes de permitir que locais deprimidos naturalmente e com presença de canais de drenagem e/ou de marés possam se transformar em ambientes lagunares, ou seja, lagunas. Esses fatos, especificamente, caracterizam a dinâmica de paisagens e conseqüente morfogênese de ambientes lagunares como a Laguna Rodrigo de Freitas (RJ) e, obviamente, a Laguna da Jansen (MA);

Analiticamente, com os barramentos impostos aos ecossistemas naturais (manguezais e/ou apicuns), caso da Laguna da Jansen para a construção da Avenida Ana Jansen (década de 1970), há reestruturações das dinâmicas de paisagens, visíveis, num primeiro momento, a partir do extravasamento lateral das águas, no sentido de ocupar todo o compartimento físico deprimido (bacia). Isso ocorre paralelamente às tentativas de espécies nativas de continuarem a manter seus ciclos vitais estáveis, algo que nem sempre é possível, haja vista a perda das características originais do espaço em questão.

As “novas” condições ambientais, socioeconomicamente induzidas, proporcionam estágios diferenciais de resiliência ambiental, ou seja, da capacidade de resposta às alteração ambientais que uma população (conjunto de indivíduos de uma mesma espécie) tem, o que acaba por gerar desequilíbrios ecológicos, com proliferação e/ou extinções de espécies, desordenadamente, estabelecendo novas relações inter-comunidades (relações inter-específicas), permitindo a saída do sistema ambiental de uma fase climáxica, ou de equilíbrio dinâmico natural, para uma fase de desequilíbrios graves.

Embora ainda sejam necessários estudos sobre a biodiversidade associada à Laguna da Jansen, é conveniente lembrar que o conjunto de espécies animais e vegetais ali estabelecidos não corresponde necessariamente às espécies que originalmente (antes das perturbações humanas) ali se desenvolviam e que as atuais (que podem ser remanescentes) ainda não entraram em estado de clímax, o que provavelmente não ocorrerá, dada as intervenções no entorno daquele espaço que continuam a interferir nos sistema ambiental induzido da Laguna.

O desequilíbrio ambiental na Laguna da Jansen é incrementado por dois fatos, especialmente: alteração da dinâmica hidrológica local/regional; utilização da bacia lagunar como área de captação de efluentes domésticos e comerciais (esgotos), que proporcionam, em conjunto com a superposição de usos do solo urbano, processos de floração de algas, diminuição do OD (Oxigênio Dissolvido) na lamina d’água e mortandade de fauna associada ao ambiente. Isso responde por dinâmica de eutrofização do ambiente.

A eutrofização, mesmo ocorrendo ocasionalmente em ecossistemas naturais, é bastante típica de ecossistemas perturbados (ou induzidos). Suas conseqüências podem, sim, elevar os índices de fragilidade ambiental local/regional, mas as suas causas estão intrinsecamente voltadas para as intervenções humanas pretéritas e atuais (no caso da Laguna da Jansen, nos últimos 35 anos, com picos de perturbações antropogênicas, ou seja, dos danos provenientes das ações humanas, concentrando-se de meados dos anos 1980 até os presentes dias), em que pesem a instalação e a falta de manutenção corretiva e preventiva dos sistemas de engenharia e infra-estrutura, que devem ser feitas por equipe técnica específica, considerando seu corpus formativo (engenheiros e técnicos ligados à construção civil, à eletrotécnica e à eletromecânica).

Por fim, percebe-se que, mesmo em estágio analítico inicial, é praticamente impossível dissociar os elementos físicos, ecológicos e socioeconômicos do contexto elucidativo de problemas e possibilidades de soluções dos mesmos em espaço tão dinâmico quanto a Laguna da Jansen (São Luís - MA). Esforço este necessário para todos os alunos de Ciências Naturais e Humanas que necessitarem entender o funcionamento integrado do sistema homem - natureza, tão pregado pela Geografia, mas tantas vezes esquecido pela mesma.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

O ENSINO DE GEOLOGIA NOS CURSOS DE GRADUAÇÃO NO MARANHÃO

Prof. Msc. Luiz Jorge B. Dias
Geógrafo - Mestre em Sustentabilidade de Ecossistemas
Prof. Auxiliar I de Geografia Física - UEMA\CESI\DHG

Há dois dias adquiri um livro muito interessante: "Fundamentos de Geologia", de Reed Wicander e James S. Monroe, lançado aqui no Brasil, em meados de 2009, pela Editora Cengage Learning, de São Paulo (SP). A primeira e rápida leitura de alguns capítulos me estimularam uma não simples reflexão: por que no ensino de Graduação em Geografia, Biologia, Ciências (Física, Química e Matemática, como ainda há na UEMA), Engenharia Ambiental e Agronomia, pelo menos aqui no Maranhão a disciplina Geologia é um verdadeiro problema? Problema, digo, tanto na questão da didática, quanto na referente ao conteúdo. Tal livro, pela forma clara e objetiva de seu texto, bem como pela contextualização, permitem com que o professor que o adote tenha nova postura sobre essa Ciência.

Os conhecimentos geológicos são imprescindíveis ao avanço concepto-pragmático do aluno de Graduação (tanto do Bacharelado, quanto da Licenciatura). Isso é algo inquestionável. Contudo, o que se observa é uma relativa "falta" de aprendizado dos estudantes que, ao passar por ela, ficam "litificados". Acreditamos que existam duas interpretações para esse fato:
1) O ensino da disciplina é comprometido pelo professor, que ou não possui conhecimento suficiente sobre as temáticas a ela associadas, ou não tem didática suficiente para repassar o conteúdo. Ademais, há uma relativa "decoreba" de assuntos como tipologias de minerais e rochas, que proporciona ao aluno uma descontextualização, tendo em vista a falta de correlação disso com os recursos minerais e mesmo com a identificação prática desses tipos de componentes lito-mineralógicos. Some-se a isso a falta de correlação dos modelos conceituais de fenômenos geológicos (epirogêneses e orogêneses, por exemplo) com a sua verdadeira manifestação nos conjuntos de paisagens locais e regionais, bem como há ausência de correlação de conhecimentos com a Geologia do Brasil, haja visto extensa produção bibliográfica disponível.
2) O ensino da disciplina é comprometido pela falta de compromisso dos estudantes de Geografia, acostumados que estão com os conteúdos condensados e muito abstratos repassados no Ensino Médio (e pelo visto não será diferente na era "pós-vestibular", ao menos no curto prazo), bem como com a forma de aprendizado por "macetes", o que facilita, por um lado, o aprendizado conteudista, mas engessa a capacidade de correlacionar teoria com a prática. O problema discente é algo emblemático, em que pese a falta de conhecimentos geológicos preliminares, os quais deveriam ter sido repassados pelos professores de Geografia no Ensino Médio (entretanto, pela formação que tiveram, estes acabam por ser mais "eficientes" em assuntos relacionados às humanidades em Geografia, que com aqueles dedicados à natureza e ao ambiente).
Sabemos que ambas interpretações estão corretas! Entretanto, cabe refletir o motivo disso. Primeiramente, no que tange ao professor, geralmente ele não é alguém com formação geológica densa. Às vezes, são substitutos que, por imposição departamental, acabam por "quebrar um galho", ministrando a disciplina. Outros tiveram apenas "uma" disciplina ligada às ciências geológicas durante toda a graduação ou pós-graduação e são considerados titulares das mesmas. Outros não se atualizam como deveriam, não acompanhando lançamentos de livros e pesquisando em novas fontes, como em artigos em revistas especializadas disponíveis na internet, bem como livros de referência, como o que citamos no ínicio dessa provocação. Outros simplemente não sentem prazer em ministrá-la (e fazer algo sem prazer é dose!).
A isso se soma um direcionamento conceitual e ideológico dos cursos de graduação, preparando o estudante para este ou aquele campo específico de atuação, relegando alguns tipos de conteúdos e conhecimentos a um "pseudo-ostracismo". Ademais, na Geografia, por exemplo, há uma orientação ideológica marxista muito forte, levando o Curso para um pensamento de esquerda, onde a dialética pura é quem "deve resolver" todos os problemas. Somos levados a ser muito mais filósofos ou sociólogos, por exemplo, que geógrafos ou licenciados em Geografia, de fato, tendo em vista o "esquecimento" do meio físico e biótico em nossas análises acadêmicas. Daí deriva que tanto os docentes, quanto os discentes da Geografia, estejam, em sua maioria, voltados para uma Geografia parcial, "dita" Humana e não a uma Geografia Total, Humana, Física e Ecológica, indissociável.
Quanto aos alunos, não vou me estender, pois a muitos deles falta compromisso com a produção do conhecimento geológico. Tenho muitas discussões com meus orientandos de monografia, pois os mesmos desconhecem o que seja, de fato, a Geologia. Acredito que,mesmo tendo sido fraca a formação nessa área do conhecimento, em carga horária que pode variar de 60 a 75h/aula no início do Curso de Graduação, o estudante deve ter a ombridade de buscar aprender conteúdos que "passaram", pois eles devem ser retomados em Geomorfologia, Geoquímica, Mineralogia, Climatologia, Biogeografia ou Avaliação de Impactos Ambientais, p.ex.. É inaceitável que um aluno que teve Geologia no segundo ou terceiro período de um Curso de Graduação esqueça por completo de estudar assuntos dessa Ciência pelo resto da graduação! Fato esse lamentável, mas evidentemente real...
Assim, o livro "Fundamentos de Geologia" nos faz ver, em sua objetividade planejada, que o ensino e o aprendizado dessa Ciência deve ser carregado de prazer e de muita simplicidade, pois ela se manifesta no nosso dia-a-dia. Não há sequer uma atividade humana que, direta ou indiretamente, não dependa das características geológicas do lugar ou da região. Basta pensar que estamos, agora, sentados em frente a um computador que funciona com baterias de silício, retirado de compostos químicos quartozosos ou de rochas sedimentares (arenito, por exemplo), ou de rochas metamórficas (quartzito, por exemplo). Peço, encarecidamente, que o leitor não pense nesse artigo como uma crítica feroz, mas um desabafo. Não haverá evolução na produção de conhecimentos nessa área sem compromisso docente - discente. Mutuamente!

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Forte chuva de granizo causa susto em Carolina, no sul do Estado

SÃO LUÍS - Uma forte chuva de granizo seguida de uma forte ventania em Carolina, distante cerca de 850 quilômetros de São Luís, deixou mais da metade da cidade sem energia, destruiu dezenas de casas e assustou a população local. Segundo informações de moradores, a chuva começou às 16h e depois de aproximadamente 30 minutos uma forte rajada de vento arrancou o telhado da maioria das casas, derrubou postes e destruiu vários automóveis que estavam estacionados próximos a muros.

Átila Rocha, que mora há um ano e oito meses na cidade, contou que nunca havia visto um fenômeno desse tipo. “Foi tudo muito rápido, a ação durou cerca de 10 minutos no máximo, mas o suficiente para deixar o município um verdadeiro caos”, relatou.

O mercado municipal foi um dos prédios que mais sofreram com as rajadas de vento. O telhado ficou espalhado pelas ruas e diversas árvores foram arrancadas com a força dos ventos. Moradora da cidade há 36 anos, Gilma Barros disse que ficou muito assustada com o que viu. “Parece que foi um furacão que passou aqui na cidade. Eu nunca tinha visto nada parecido, só na televisão”, contou. O aposentado de 89 anos Basílio Ferreira disse também que ficou impressionado com o que viu: uma chuva muito forte e rápida e com o alto poder de destruição como essa.

Minutos após a ventania, trabalhadores do serviço de limpeza da cidade e os moradores foram às ruas para contabilizar os prejuízos. Segundo informações da Prefeitura, o serviço de atendimento no hospital da cidade não registrou nenhum caso mais grave. Até o fechamento desta edição, não havia informações de mortos ou feridos, somente de prejuízo material. Consultado por O Estado, O Serviço de Meteorologia do Maranhão não soube informar se existe a possibilidade de um fenômeno desse porte acontecer novamente em municípios maranhenses.
Texto extraído do site: http://imirante.globo.com/noticias/pagina225263.shtml. Acesso em: 15/12/2009.