sexta-feira, 17 de junho de 2011

A AMAZÔNIA ENQUANTO DOMÍNIO DE NATUREZA OU AMAZÔNIA GEOECOLÓGICA

Prof. MSc. Luiz Jorge Dias
Geógrafo - Mestre em Sustentabilidade de Ecossistemas


Já no século XIX, o naturalista europeu Alexander von Humboldt definiu, aprioristicamente, as Florestas Amazônicas como Hiléia Amazônica, por compreender diversos tipos florestais onde as árvores podem atingir aproximadamente 60 metros de altura e suas copas formam um emaranhado de biomassa, conhecido como dossel, abrigando rica biodiversidade, em todos os seus aspectos (Conti; Furlan, 2005), que ainda é bastante desconhecida em sua complexidade e magnitude evolutiva. Outrossim, a flora mais estudada são as que ficam próximas das cidades, principalmente em virtude da dificuldade de acesso. Assim, "muitas espécies tidas como raras podem ter outros padrões de distribuições. A diversidade conhecida ainda não permite mapear essa riqueza. Algumas espécies de valor econômicas têm sua geografia mais bem conhecida. É o caso (...) da Hevea brasiliensis. O entendimento da flora ainda é uma incógnita" (CONTI; FURLAN, 2005, p. 162).

O entendimento dos componentes biogeográficos de uma região é dado a partir de escalas espaciais pré-definidas de ambientes com características mais ou menos similares, que necessitam ter um grau de aproximação interpretativa muito elevado. Assim, Bertrand (2004), para fins de classificações biogeográficas, geomorfológicas e geoecológicas, dividiu os espaços da Terra em agrupamentos espaciais, definidos por unidades.

Assim sendo, o conceito de domínio de natureza está diretamente relacionado com a ordem de grandeza de fatos biogeográficos e morfoclimáticos, que estão em função da área ocupada por certo conjunto, aparentemente homogêneo, de caracteres físicos e bióticos desenvolvidos num espaço total cuja área pode variar de 100.000 a 5.000.000 km2. Dessa maneira, o Brasil possui, segundo Ab’Sáber (2003), sete grandes domínios de natureza (também denominados morfoclimáticos ou climatobotânicos), espacializados em projeção cartográfica presente na Figura apresentada neste texto, segundo essa perspectiva metodológica, que é eminentemente geoecológica.

Ab’Sáber (2003) assim caracteriza os domínios de natureza brasileiros:





  • Domínios dos Chapadões Tropicais Interiores com Cerrados e Florestas-Galeria: área que engloba aproximadamente 1,7 milhões de quilômetros quadrados, caracterizando a biogeografia e geoecologia do Brasil Central. Sua característica fisionômica predominante é a presença de árvores retorcidas, consorciadas a substratos de gramíneas. Também é composto de formações fitogeográficas de porte mais elevado, denominados de cerradões. Na Amazônia Legal Maranhense esses domínios são recorrentes espacialmente, tanto nos vastos inter-espaços do centro do Estado ou nos chapadões da região conhecida como “Gerais de Balsas”, que compreende os Balsas, Tasso Fragoso e Alto Parnaíba;




  • Domínios de Áreas Mamelonares Tropical-Atlânticas Florestadas: também conhecido como Domínio dos Mares de Morros Florestados, é o tipo de fisionomia geográfica natural que bordeja a faixa atlântica brasileira, do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul, com penetração máxima rumo ao interior no Estado de São Paulo. Não existe nenhuma caracterização, segundo Ab’Sáber (2003; 2006b), desse conjunto geoecológico no Estado do Maranhão. As áreas medianamente soerguidas do Estado do Maranhão, que compõem as serras e planaltos interiores em bacias sedimentares, são extensões dos domínios amazônicos (AB’SÁBER, 2004). Em outros termos, esse complexo paisagístico é definido pelo desenvolvimento espacial das Matas Atlânticas. Possui aproximadamente 650.000 km2;


  • Domínio das Depressões Interplanálticas Semi-áridas do Nordeste: também denominado Domínio das Caatingas, com aproximadamente 800.000 km2, esse conjunto morfoclimático é o único tipicamente brasileiro, ou seja, não ocorre em outras áreas da América do Sul. É caracterizado por depressões extensivas de aplainamentos terciários, recobertas por uma vegetação rala, espinhosa, conhecida como caatinga. É o domínio natural menos chuvoso de todos, caracterizando semi-aridez extrema, com médias pluviométricas de aproximadamente 600 mm/ anuais;


  • Domínios dos Planaltos das Araucárias: região com aproximadamente 400.000 km2, caracterizada pela espaço morfoclimático de desenvolvimento das araucárias. É um domínio bastante degradado, atualmente, e está em área de contato das terras tropicais de altitude com a zona subtropical que engloba parcelas do território brasileiro;


  • Domínio das Coxilhas Subtropicais com Pradarias Mistas: também denominado de Domínios dos Pampas Gaúchos ou simplesmente Campanha Gaúcha, possui 80.000 km2 em território brasileiro, se desenvolvendo espacialmente pelos demais países platinos: Uruguai e Argentina;



  • Domínio das Áreas de Transição e Contato: como o próprio nome já informa, é uma faixa, ora estreita, ora alongada, que caracteriza os contatos transicionais entre os sistemas ambientais associados a um ou mais domínios de natureza. As Matas de Cocais no Estado do Maranhão, por exemplo, são faixas de transição e contato entre os Domínios Amazônicos, dos Cerrados e das Caatingas. A conservação da natureza nesses espaços de elevada biodiversidade é emergencial, tendo em vista que são áreas que nos últimos 40 anos vêm sofrendo significativamente com sucessões de impactos ambientais. Aproximadamente metade da Amazônia Legal Maranhense está situada neste domínio geoecológico.

De forma especial, o sétimo Domínio Morfoclimático Brasileiro, denominado de Domínio das Terras Baixas Florestadas Equatoriais, ou simplesmente das Florestas Amazônicas, é minado de conceitos e especulações que o diferenciam dos demais. A Amazônia é considerada como um domínio de natureza, por sinal o maior da América do Sul (AB’SÁBER, 2006b). Sua extensão em terras brasileiras é de aproximadamente 4,5 milhões de km2, ou seja, aproximadamente 52,90% do País e 1/4 do continente Sul-americano.

A região amazônica possui a maior parte de suas áreas dominadas por formações geoecológicas de terra firme com altitudes inferiores a 200m. De acordo com Conti e Furlan, (2005, p. 164) o relevo e a sua cobertura são considerados terrenos geologicamente recentes, onde ocorrem “[...] um mosaico de florestas de terras firmes, com textura variada. Planaltos em bacias sedimentares da Amazônia [...] recobertos por mosaico de florestas [...]” biodiversas.

No que se refere o espaço amazônico, é possível identificar a variedades dos domínios naturais, na Amazônia Legal Brasileira, encontra os mais diversos tipos de ecossistemas. Segundo a classificação de Ambiente Brasil (2009), através de imagens de satélite foi possível identificar 104 desses sistemas que caracteriza esta biodiversidade pertencente à região.

A biodiversidade torna-se cada vez mais valorizada como fonte potencial de informações genéticas, químicas, ecológicas e microbiológicas. A diversidade de espécies de árvores da região amazônica é de grande variedade, de 40 e 300 espécies diferentes por hectare (AMBIENTE BRASIL, 2009). Das 250.000 espécies de plantas superiores da terra, 170.000 (68%) vivem exclusivamente nos trópicos, trópicos, sendo 90.000 na América do Sul. A Amazônia possui um espaço total de aproximadamente 3.650.000 km² só de florestas contínuas.

Entretanto, é notável que a rica biodiversidade florestal esteja cada vez mais ameaçada. As ações antrópicas cumulativas vêm aos poucos causando conseqüências irreversíveis às regiões naturais e ecossistemas de tão importante e estratégico domínio natural. Assim, é imperativo que para o Domínio Amazônico, que é caracterizado pela a grande biodiversidade, sejam desenvolvidas novas pesquisas multi e interdisciplinares que propiciem a aplicação de técnicas de planejamento adequadas à proteção e ao desenvolvimento socioambiental da Amazônia Legal Brasileira e da Maranhense.